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Energia nuclear: Entre o receio e o progresso 37 anos depois de Chernobyl

Vários países voltaram a apostar na produção de eletricidade a partir da energia nuclear
Vários países voltaram a apostar na produção de eletricidade a partir da energia nuclear Direitos de autor Photo by Johannes Plenio
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De Teresa Bizarro & Bruno Sousa
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No dia de que se assinalam 37 anos do maior acidente nuclear de sempre, a Euronews avalia os riscos que a guerra representa para as centrais nucleares ucranianas e toma o pulso a uma indústria que parece ter ganho um novo impulso

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A explosão de um reator nuclear pôs Chernobyl no mapa em 1986 pelas piores razões. É ainda considerado o mais grave acidente nuclear da história. As memórias estão vivas 37 anos depois e os receios de um novo acidente mais presentes desde o início da guerra na Ucrânia.

O país tem 15 reatores nucleares, distribuídos por quatro centrais, mas é Zaporíjia que centra atenções. Apesar dos apelos da Agência Internacional de Energia Atómica(AIEA), há relatos diários de ataques na região.

Entrevistado pela Euronews, um antigo dirigente da agência considera que estamos hoje mais expostos ao perigo do que em 1986:

“Esta situação é, de certa forma, pior, porque se trata de um ataque intencional, feito pelo homem, e é muito difícil proteger uma central nuclear se as munições ou os mísseis atingirem o local errado,” diz Olli Heinonen, investigador emérito no Stimson Center.

Mais otimista, Johnatan Cobb, diretor de comunicação da Associação Nuclear Mundial (WNA), considera que “o que aconteceu em 1986 deveu-se principalmente a uma fraca cultura de segurança na central de Chernobyl”. “Não foi por terem violado as regras. De facto, não lhes tinham sido dadas regras para seguir,” diz, acrescentando que a indústria e os reguladores do setor “aprenderam a lição”.

Zaporíjia no centro dos receios

A maior central nuclear da Europa foi um dos primeiros alvos da Rússia. A 4 de março do ano ado, oito dias depois do início da invasão da Ucrânia, as tropas russas tomaram controlo das instalações de Zaporíjia. A central continuou no entanto a ser operada por trabalhadores ucranianos.

Depois de meses de insegurança, em setembro de 2022, o último reator foi desligado. A central entrou noutra fase de laboração, menos sensível, mas nem por isso menos perigosa.

Na realidade, a situação está a deteriorar-se,” alerta Heinonen. “Se lerem o relatório do Sr. Grossi na semana ada, verificam que só cerca de um quarto do pessoal de manutenção está presente em Zaporíjia. Um quarto não é suficiente, porque as centrais nucleares têm um sistema de manutenção regular, inspecções regulares e inspecções de segurança por parte das autoridades.

Não as conseguem realizar como planeado, o que significa que a central se está a deteriorar com o tempo e há falta de peças sobresselentes. Penso que estamos a caminhar na direcção errada. E isso pode ter consequências infelizes que são imprevisíveis e podem levar à libertação de radioactividade,” declara o antigo responsável da AIEA.

A WNA tem outra leitura. “Ambos os lados afirmam que exploram a central, por isso não é de esperar que a tratem como um alvo militar,” diz Jonathan Cobb. O responsável pela comunicação da associação assume que a situação deve ser olhada com “preocupação”, mas sublinha que “o local em si não parece ter sido deliberadamente visado pelos bombardeamentos”.

“Tratam-se de bombardeamentos que estão a ocorrer em torno da central e houve um ou dois casos em que um projéctil atingiu algumas partes do local, não os reactores propriamente ditos e isso pode ser considerado um erro,” declara.

Cobb considera que o risco é reduzido também pela robustez da estrutura. “Os próprios reactores são muito robustos. Têm paredes de betão com um metro de espessura e revestimento de aço. São, portanto, edifícios muito resistentes, com uma protecção que se espera que seja suficiente para este tipo de impactos acidentais que não são deliberadamente dirigidos contra eles”.

Ameaça nuclear não se limita a Zaporíjia

Os argumentos em torno da robustez das infraestruturas das centrais nucleares não convencem Olli Heinonen, que sublinha que a segurança das centrais depende também de outras fontes de energia elétrica, responsáveis pelo arrefecimento dos reatores. Caso essas infraestruturas sejam atingidas, intencionalmente ou por acidente, “não vai ser um acidente do género de Chernobyl mas “as consequências podem ser graves”.

Heinonen lembra que o fornecimento de eletricidade a Zaporíjia já esteve comprometido pelos bombardeamentos na região e foi mesmo necessário recorrer a geradores a diesel para assegurar o arrefecimento dos seis reatores.

Os holofotes da comunidade internacional estão focados na maior central nuclear da Europa mas a preocupação estende-se às quatro centrais nucleares da Ucrânia, que têm um total de 15 reatores em funcionamento.

Rivne e Khmelnytskyi, no norte do país, perto da fronteira com a Bielorrússia, estão suficientemente longe da linha da frente para encararem a situação com alguma tranquilidade, mas Pivdennoukrainsk, no sul, está a menos de 200 km de Odessa ou Mykolaiv, duas cidades martirizadas pela guerra em curso.

Caso alguma das centrais venha a ser atingida, Heinonen explica que “a curto prazo, sabemos que a radioatividade pode ultraar as fronteiras da Ucrânia” e, dependendo dos ventos, pode afetar a Europa Ocidental.

Considera ainda que se houver uma grande libertação de radioatividade, o impacto na agricultura ucraniana pode ser devastador, uma vez que as sementes e cereais ficarão contaminados, o que terá consequências graves para a economia e para a vida das pessoas.

Risco não impede o reacender do interesse na energia nuclear

Apesar dos receios em torno da energia nuclear, a indústria que parecia condenada ganhou novo fôlego com a crise energética provocada pela guerra na Ucrânia. Há muito dependente dos combustíveis fósseis russos, a Europa foi obrigada a procurar outras fontes de energia e a aposta no nuclear voltou a estar em cima da mesa.

Existem atualmente onze reatores nucleares em construção no continente europeu, quatro em território russo, sendo que em Espanha, Suíça, Finlândia e Suécia estão a aumentar a capacidade produtiva das centrais existentes.

euronews
Reatores nucleares na Europaeuronews

Ambos os especialistas ados pela Euronews defendem ser este o caminho a seguir. Olli Heinonen sustenta que “é importante para a Europa ter mais energia nuclear” para estar menos dependente do petróleo e do carvão, acrescentando que “também é bom para o ambiente”. No que diz respeito aos riscos associados ao nuclear, defende que “o historial europeu desde 1960 é bastante bom em termos de utilização segura da energia nuclear.”

Já Johnatan Cobb lembra que o interesse na energia nuclear se reacendeu antes da guerra na Ucrânia e foi motivado pela necessidade de recorrer a fontes energéticas com baixas emissões de carbono. O diretor da WMA sublinha que a energia atómica “pode funcionar em conjunto com a energia eólica, solar, hídrica e outras energias renováveis” rumo ao objetivo de ter uma produção energética livre de emissões de carbono até 2050.

A França é a campeã incontestável na produção de energia nuclear na Europa, garantindo mais de metade (52%) do total produzido em 2021. Emmanuel Macron é um forte defensor do nuclear, estando atualmente em curso um programa para renovar as centrais existentes no país e construir novos reatores.

Em sentido inverso segue a Alemanha, que ainda assim foi responsável por 9% da energia nuclear produzida em 2021 na Europa (só a França fez melhor). Berlim há muito tinha anunciado o fim da produção no país e o encerramento das últimas centrais aconteceu este mês. A guerra na Ucrânia atrasou um pouco o processo mas não o impediu.

Jonathan Cobb critica duramente esta opção: “É de facto uma ação bastante reprovável quando continuam a ser tão dependentes dos combustíveis fósseis. (…) Muitos países na Europa voltam-se agora para a construção de novos reatores nucleares e também procuram alargar o funcionamento dos reatores existentes. A Alemanha está sozinha nesta questão (...) Penso que eliminar a produção nuclear, mantendo a dependência dos combustíveis fósseis, é uma decisão muito má da Alemanha".

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