{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2023/07/10/motins-em-franca-quais-as-diferencas-entre-a-violencia-de-2023-e-a-de-2005" }, "headline": "Motins em Fran\u00e7a: quais as diferen\u00e7as entre a viol\u00eancia de 2023 e a de 2005?", "description": "A viol\u00eancia urbana em Fran\u00e7a - ap\u00f3s o jovem Nahel ser morto por um pol\u00edcia quando, alegadamente, resistia \u00e0 deten\u00e7\u00e3o - relembra os motins de 2005. Dois soci\u00f3logos fazem a an\u00e1lise.", "articleBody": "Que paralelos podem ser tra\u00e7ados entre estes dois acontecimentos? Embora a origem da raiva - a morte de jovens durante controlos policiais - seja semelhante, o contexto social \u00e9 diferente e os canais de comunica\u00e7\u00e3o evolu\u00edram muito, permitindo a dissemina\u00e7\u00e3o instant\u00e2nea e sem filtros da informa\u00e7\u00e3o. Os motins de 2023 ser\u00e3o mais intensos do que em 2005 No outono de 2005, Fran\u00e7a viveu tr\u00eas semanas de tumultos, inicialmente, concentrados nos chamados sub\u00farbios \u0022sens\u00edveis\u0022 da regi\u00e3o parisiense, antes de se estenderem a outras partes do pa\u00eds. A revolta foi desencadeada pela morte, em 27 de outubro, perto de Clichy-sous-Bois (Seine-Saint-Denis), de dois adolescentes - Zyed e Bouna - que foram eletrocutados num equipamento da EDF, o maior fornecedor de energia gaul\u00eas, onde se tinham refugiado para escapar a um controlo policial. As suas mortes, que se seguiram \u00e0s de dois outros jovens, uns meses antes, deram origem a uma onda de viol\u00eancia urbana durante a qual foram incendiados mais de\u00a0 \u00a0 10 000 carros, danificados numerosos edif\u00edcios, feridos dezenas de pol\u00edcias, guardas e manifestantes e detidas mais de 6 000 pessoas. Os tumultos provocaram ainda tr\u00eas mortos, dois dos quais em inc\u00eandios. A 27 de junho , a hist\u00f3ria repetiu-se com a morte de Nahel , um jovem franco-argelino de 17 anos que foi morto a tiro por um agente da pol\u00edcia quando alegadamente se recusou a obedecer. De acordo com os \u00faltimos n\u00fameros divulgados pelo Minist\u00e9rio do Interior, os oito dias de viol\u00eancia urbana que se seguiram causaram danos parecidos e mobilizaram mais for\u00e7as de seguran\u00e7a do que os motins de 2005, que duraram tr\u00eas semanas. Cen\u00e1rios que se repetem Espetaculares na sua intensidade, os motins de 2023 e 2005 est\u00e3o longe de ser os \u00fanicos ocorridos em Fran\u00e7a. O soci\u00f3logo Fran\u00e7ois Dubet , que contabilizou cerca de quarenta motins desde 1980, diz-se impressionado com a repeti\u00e7\u00e3o do mesmo cen\u00e1rio: \u0022 Sempre que h\u00e1 um problema ou\u00a0 um assassinato pela pol\u00edcia ,\u00a0 h\u00e1 viol\u00eancia contra\u00a0 edif\u00edcios p\u00fablicos,\u00a0 esquadras de pol\u00edcia, escolas,\u00a0 c\u00e2maras municipais.\u00a0 Acaba sempre com algumas pilhagens,\u00a0 os representantes eleitos e as\u00a0 associa\u00e7\u00f5es n\u00e3o s\u00e3o ouvidos\u0022. O soci\u00f3logo Fabien Truong concorda: \u0022 Os mesmos problemas repetem-se, ou seja, deten\u00e7\u00f5es frequentes, h\u00e1 a impress\u00e3o de que as coisas v\u00e3o ficar fora de controlo, o que acontece com bastante regularidade, porque \u00e9 tudo cr\u00f3nico. Infelizmente, todos os anos se registam mortes em bairros destes, na sequ\u00eancia de confrontos com a pol\u00edcia. Isto reflete (...) a l\u00f3gica de suspei\u00e7\u00e3o, com a pol\u00edcia a intervir muitas vezes \u00e0s cegas\u0022. Os jovens sentem-se \u0022negligenciados\u0022 Em 2005, como em 2023, muitos jovens de 16 e 17 anos sa\u00edram \u00e0 rua para exprimir a sua c\u00f3lera e o seu ressentimento. \u0022 \u00c9 uma franja jovem \u00a0dos sub\u00farbios que sente, com ou sem raz\u00e3o, que chegou a um ime, que foi abandonada e que, no fundo, sente que n\u00e3o tem mais nada a perder\u0022. S\u00e3o \u00a0\u0022jovens que\u00a0 n\u00e3o t\u00eam, \u00e0 sua volta, uma\u00a0 presen\u00e7a adulta suficiente \u0022, explica Fabien Truong. Os problemas s\u00e3o profundos: a transforma\u00e7\u00e3o dos bairros em guetos, a precariedade, o desemprego, o fracasso do sistema de Educa\u00e7\u00e3o nacional, o racismo, a discrimina\u00e7\u00e3o e a delinqu\u00eancia est\u00e3o entre os sintomas mais frequentemente citados. Fran\u00e7ois Dubet sublinha tamb\u00e9m o vazio que rodeia os jovens envolvidos na viol\u00eancia urbana: \u0022 Por detr\u00e1s dos, chamemos-lhes,\u00a0 desordeiros, nestes motins,\u00a0 de hoje ou de ontem, n\u00e3o h\u00e1 nenhuma organiza\u00e7\u00e3o, nenhum partido, nenhum sindicato, nenhuma mesquita, n\u00e3o h\u00e1 nada. O que \u00e9 carater\u00edstico \u00e9 o vazio pol\u00edtico. O presidente da c\u00e2mara, que fez tudo o que podia pelo centro social e pelo centro de juventude, ainda pode falar, mas fala para o vazio. Ningu\u00e9m o ouve\u0022. Em 2023, as redes sociais desempenharam um papel acelerador Desta vez, as redes sociais desempenharam um papel catalisador, como explica Fran\u00e7ois Dubet: \u0022O assassinato de Nahel foi filmado. Todos os cidad\u00e3os puderam ver um pol\u00edcia a brandir um rev\u00f3lver contra a cabe\u00e7a de um rapaz que conduzia um carro. Em 2005, ningu\u00e9m viu nada, tudo foi interpretado e discutido\u0022. As cenas de destrui\u00e7\u00e3o e de pilhagem, difundidas nas redes sociais, criam um burburinho e t\u00eam um efeito de bola de neve: \u0022Podemos constatar que existem efeitos de encena\u00e7\u00e3o (...). Al\u00e9m disso, as redes mudaram a forma como percecionamos a rela\u00e7\u00e3o entre a pol\u00edcia e o p\u00fablico, atualmente\u0022, salienta Fabien Truong. Um contexto social mais explosivo em 2023 Em 2023, o contexto social parece mais explosivo do que em 2005. Fran\u00e7a acaba de viver v\u00e1rias semanas de greves e manifesta\u00e7\u00f5es ligadas \u00e0 reforma das pens\u00f5es. O pa\u00eds continua tamb\u00e9m marcado pelo movimento \u0022Gilets jaunes\u0022 , os coletes amarelos em portugu\u00eas;\u00a0contra a precariedade do emprego e a injusti\u00e7a social; por dois anos de restri\u00e7\u00f5es sanit\u00e1rias ligadas \u00e0 crise da Covid-19 e por uma infla\u00e7\u00e3o galopante, ligada \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia, que pesa sobre o poder de compra. Outros acontecimentos ocorridos no estrangeiro tamb\u00e9m se propagaram ao Velho Continente, como a morte do afro-americano George Floyd , s\u00edmbolo da viol\u00eancia policial e da discrimina\u00e7\u00e3o de que \u00e9 v\u00edtima a comunidade negra nos EUA. Em 2005, Nicolas Sarkozy , ent\u00e3o ministro do Interior, usou frases chocantes para inflamar a opini\u00e3o p\u00fablica. \u0022 Vamos limpar os bairros sociais com uma\u00a0 K\u00e4rcher \u0022 \u00a0declarava aquele que viria a ser Presidente de Fran\u00e7a, durante uma visita a La Courneuve, um bairro sens\u00edvel da regi\u00e3o parisiense. A 25 de outubro, pouco antes dos tumultos, o mesmo Sarkozy tinha voltado a faz\u00ea-lo, dirigindo-se aos habitantes do bairro de Argenteuil: \u0022Est\u00e3o fartos deste bando de escumalha? Ent\u00e3o, vamos livrar-nos deles\u0022. Fora de Fran\u00e7a, uma impress\u00e3o de caos generalizado Tal como em 2005, as imagens dos recentes tumultos foram amplamente difundidas em todo o mundo, dando uma impress\u00e3o de caos em Fran\u00e7a, onde os sub\u00farbios s\u00e3o vistos, por alguns observadores estrangeiros, como zonas sem lei onde reina a criminalidade. \u0022 As pessoas que vivem nestas zonas n\u00e3o s\u00e3o traficantes de droga . Apesar do desemprego maci\u00e7o, a maior parte trabalha, pode ser menos abastada, mas vive uma vida normal\u0022, afirmava o soci\u00f3logo Fran\u00e7ois Dubet, sublinhando uma forma de ambival\u00eancia no seio desta popula\u00e7\u00e3o: \u0022Os habitantes condenam a viol\u00eancia porque destr\u00f3i o seu bairro, mas tamb\u00e9m denunciam o racismo policial e pedem mais pol\u00edcias, porque o bairro deixou de ser habit\u00e1vel\u0022. Fabien Truong tamb\u00e9m considera que a viol\u00eancia urbana em Fran\u00e7a distorce a realidade destes bairros: \u0022Quando olhamos para os n\u00fameros dos fluxos populacionais vemos que h\u00e1 muita mobilidade social . Por isso, se os bairros est\u00e3o a ficar mais pobres \u00e9 tamb\u00e9m porque as fam\u00edlias, bem sucedidas ou que melhoram as suas condi\u00e7\u00f5es de vida, abandonam esses bairros\u0022, referia o soci\u00f3logo, que destaca tamb\u00e9m os muitos \u00eaxitos dos jovens : \u0022H\u00e1 uma franja destes jovens que encontrou realmente o seu lugar na sociedade sa. Basta ver quem trabalha na SNCF, quem trabalha em empresas, quem est\u00e1 na sele\u00e7\u00e3o sa, quem s\u00e3o as personalidades preferidas dos ses, qual \u00e9 a m\u00fasica mais ouvida, o rap. Mas a outra face da moeda \u00e9 o empobrecimento dos pr\u00f3prios bairros\u0022. ", "dateCreated": "2023-07-03T09:51:45+02:00", "dateModified": "2023-07-10T07:01:16+02:00", "datePublished": "2023-07-10T07:00:35+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F72%2F58%2F64%2F1440x810_cmsv2_936ed557-9504-5e79-b600-f9489b961932-7725864.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Tumultos em Nanterre, Fran\u00e7a (30/06/2005)", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F72%2F58%2F64%2F432x243_cmsv2_936ed557-9504-5e79-b600-f9489b961932-7725864.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Motins em França: quais as diferenças entre a violência de 2023 e a de 2005?

Tumultos em Nanterre, França (30/06/2005)
Tumultos em Nanterre, França (30/06/2005) Direitos de autor Aurelien Morissard/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Aurelien Morissard/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
De Euronews com AFP
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

A violência urbana em França - após o jovem Nahel ser morto por um polícia quando, alegadamente, resistia à detenção - relembra os motins de 2005. Dois sociólogos fazem a análise.

PUBLICIDADE

Que paralelos podem ser traçados entre estes dois acontecimentos? Embora a origem da raiva - a morte de jovens durante controlos policiais - seja semelhante, o contexto social é diferente e os canais de comunicação evoluíram muito, permitindo a disseminação instantânea e sem filtros da informação.

Os motins de 2023 serão mais intensos do que em 2005

No outono de 2005, França viveu três semanas de tumultos, inicialmente, concentrados nos chamados subúrbios "sensíveis" da região parisiense, antes de se estenderem a outras partes do país.

A revolta foi desencadeada pela morte, em 27 de outubro, perto de Clichy-sous-Bois (Seine-Saint-Denis), de dois adolescentes - Zyed e Bouna - que foram eletrocutados num equipamento da EDF, o maior fornecedor de energia gaulês, onde se tinham refugiado para escapar a um controlo policial.

As suas mortes, que se seguiram às de dois outros jovens, uns meses antes, deram origem a uma onda de violência urbana durante a qual foram incendiados mais de    10 000 carros, danificados numerosos edifícios, feridos dezenas de polícias, guardas e manifestantes e detidas mais de 6 000 pessoas. Os tumultos provocaram ainda três mortos, dois dos quais em incêndios.

A 27 de junho, a história repetiu-se com a morte de Nahel, um jovem franco-argelino de 17 anos que foi morto a tiro por um agente da polícia quando alegadamente se recusou a obedecer.

De acordo com os últimos números divulgados pelo Ministério do Interior, os oito dias de violência urbana que se seguiram causaram danos parecidos e mobilizaram mais forças de segurança do que os motins de 2005, que duraram três semanas.

CHRISTOPHE ENA/AP2006
Fotos de Zyed Benna e Bouna Traore eletrocutados até à morte a 27 de outubro de 2005 em Clichy-Sous-BoisCHRISTOPHE ENA/AP2006
Cara Anna/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
A campa de Nahel Merzouk, o adolescente morto por um polícia a 27 de junho de 2023Cara Anna/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.

Cenários que se repetem

Espetaculares na sua intensidade, os motins de 2023 e 2005 estão longe de ser os únicos ocorridos em França.

O sociólogo François Dubet, que contabilizou cerca de quarenta motins desde 1980, diz-se impressionado com a repetição do mesmo cenário: "Sempre que há um problema ou um assassinato pela polícia, há violência contra edifícios públicos, esquadras de polícia, escolas, câmaras municipais. Acaba sempre com algumas pilhagens, os representantes eleitos e as associações não são ouvidos".

O sociólogo Fabien Truong concorda: "Os mesmos problemas repetem-se, ou seja, detenções frequentes, há a impressão de que as coisas vão ficar fora de controlo, o que acontece com bastante regularidade, porque é tudo crónico. Infelizmente, todos os anos se registam mortes em bairros destes, na sequência de confrontos com a polícia. Isto reflete (...) a lógica de suspeição, com a polícia a intervir muitas vezes às cegas".

Michel Euler/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
Tumultos em Nanterre (29/06/23)Michel Euler/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
JACQUES BRINON/AP2005
Um carro incendiado durante os motins de 2005JACQUES BRINON/AP2005

Os jovens sentem-se "negligenciados"

Em 2005, como em 2023, muitos jovens de 16 e 17 anos saíram à rua para exprimir a sua cólera e o seu ressentimento.

"É uma franja jovem dos subúrbios que sente, com ou sem razão, que chegou a um ime, que foi abandonada e que, no fundo, sente que não tem mais nada a perder". São_ "jovens que_não têm, à sua volta, uma presença adulta suficiente_",_ explica Fabien Truong.

Os problemas são profundos: a transformação dos bairros em guetos, a precariedade, o desemprego, o fracasso do sistema de Educação nacional, o racismo, a discriminação e a delinquência estão entre os sintomas mais frequentemente citados.

François Dubet sublinha também o vazio que rodeia os jovens envolvidos na violência urbana: "Por detrás dos, chamemos-lhes, desordeiros, nestes motins, de hoje ou de ontem, não há nenhuma organização, nenhum partido, nenhum sindicato, nenhuma mesquita, não há nada. O que é caraterístico é o vazio político. O presidente da câmara, que fez tudo o que podia pelo centro social e pelo centro de juventude, ainda pode falar, mas fala para o vazio. Ninguém o ouve".

Michel Euler/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
A marcha por Nahel (29/06/2023)Michel Euler/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
CHRISTIAN HARTMANN/AP
Homenagem a Zyed e Bouna, um ano após a sua morte em Clichy-sous-Bois (27 de outubro de 2006)CHRISTIAN HARTMANN/AP

Em 2023, as redes sociais desempenharam um papel acelerador

Desta vez, as redes sociais desempenharam um papel catalisador, como explica François Dubet: "O assassinato de Nahel foi filmado. Todos os cidadãos puderam ver um polícia a brandir um revólver contra a cabeça de um rapaz que conduzia um carro. Em 2005, ninguém viu nada, tudo foi interpretado e discutido".

As cenas de destruição e de pilhagem, difundidas nas redes sociais, criam um burburinho e têm um efeito de bola de neve: "Podemos constatar que existem efeitos de encenação (...). Além disso, as redes mudaram a forma como percecionamos a relação entre a polícia e o público, atualmente", salienta Fabien Truong.

Um contexto social mais explosivo em 2023

Em 2023, o contexto social parece mais explosivo do que em 2005. França acaba de viver várias semanas de greves e manifestações ligadas à reforma das pensões.

O país continua também marcado pelo movimento "Gilets jaunes", os coletes amarelos em português; contra a precariedade do emprego e a injustiça social; por dois anos de restrições sanitárias ligadas à crise da Covid-19 e por uma inflação galopante, ligada à guerra na Ucrânia, que pesa sobre o poder de compra.

Outros acontecimentos ocorridos no estrangeiro também se propagaram ao Velho Continente, como a morte do afro-americano George Floyd, símbolo da violência policial e da discriminação de que é vítima a comunidade negra nos EUA.

Em 2005, Nicolas Sarkozy, então ministro do Interior, usou frases chocantes para inflamar a opinião pública. _"Vamos limpar os bairros sociais com uma_Kärcher" declarava aquele que viria a ser Presidente de França, durante uma visita a La Courneuve, um bairro sensível da região parisiense. A 25 de outubro, pouco antes dos tumultos, o mesmo Sarkozy tinha voltado a fazê-lo, dirigindo-se aos habitantes do bairro de Argenteuil: "Estão fartos deste bando de escumalha? Então, vamos livrar-nos deles".

Fora de França, uma impressão de caos generalizado

Tal como em 2005, as imagens dos recentes tumultos foram amplamente difundidas em todo o mundo, dando uma impressão de caos em França, onde os subúrbios são vistos, por alguns observadores estrangeiros, como zonas sem lei onde reina a criminalidade.

"As pessoas que vivem nestas zonas não são traficantes de droga. Apesar do desemprego maciço, a maior parte trabalha, pode ser menos abastada, mas vive uma vida normal", afirmava o sociólogo François Dubet, sublinhando uma forma de ambivalência no seio desta população: "Os habitantes condenam a violência porque destrói o seu bairro, mas também denunciam o racismo policial e pedem mais polícias, porque o bairro deixou de ser habitável".

Fabien Truong também considera que a violência urbana em França distorce a realidade destes bairros: "Quando olhamos para os números dos fluxos populacionais vemos quemuita mobilidade social. Por isso, se os bairros estão a ficar mais pobres é também porque as famílias, bem sucedidas ou que melhoram as suas condições de vida, abandonam esses bairros", referia o sociólogo, que destaca também os muitos êxitos dos jovens: "Há uma franja destes jovens que encontrou realmente o seu lugar na sociedade sa. Basta ver quem trabalha na SNCF, quem trabalha em empresas, quem está na seleção sa, quem são as personalidades preferidas dos ses, qual é a música mais ouvida, o rap. Mas a outra face da moeda é o empobrecimento dos próprios bairros".

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Trump envia dois mil militares da Guarda Nacional para controlar protestos sobre a imigração em LA

Milhares de pessoas assinalam quinto aniversário da morte de George Floyd

Flores enchem local do tiroteio em Oldenburg enquanto aumentam os pedidos de justiça