{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/2024/05/10/os-verdes-para-terry-reintke-ecologia-e-seguranca-sao-duas-faces-da-mesma-moeda" }, "headline": "Os Verdes: Para Terry Reintke, ecologia e seguran\u00e7a s\u00e3o duas faces da mesma moeda", "description": "\u0022O Pacto Ecol\u00f3gico Europeu \u00e9 uma parte crucial do puzzle para tornar a Europa um continente mais seguro\u0022, defende a candidata dos Verdes \u00e0s elei\u00e7\u00f5es para o Parlamento Europeu, Terry Reintke.", "articleBody": "Os Verdes foram um dos partidos vencedores das \u00faltimas elei\u00e7\u00f5es europeias. Melhoraram os resultados e conquistaram os eleitores com um programa a favor do clima. Mas a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucr\u00e2nia, a infla\u00e7\u00e3o e o aumento dos custos da energia viraram a Uni\u00e3o Europeia do avesso no espa\u00e7o de cinco anos.\u00a0\u00a0 Hoje, as ambi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas europeias s\u00e3o responsabilizadas por quase todos os males. A euronews entrevistou Terry Reintke, candidata dos Verdes \u00e0s elei\u00e7\u00f5es para o Parlamento Europeu. Euronews : \u0022Como \u00e9 que vai convencer os cidad\u00e3os, que parecem menos dispostos a fazer esfor\u00e7os pelo clima?\u0022 Terry Reintke : \u201cO que eu gostaria de fazer \u00e9, obviamente, convencer as pessoas de que temos de manter o rumo da neutralidade clim\u00e1tica, porque isso \u00e9 do interesse de todos. J\u00e1 estamos a ver as consequ\u00eancias terr\u00edveis que a crise clim\u00e1tica tem atualmente, e especialmente na Europa, porque a Europa \u00e9 o continente do mundo que est\u00e1 a aquecer mais rapidamente. Mas, ao mesmo tempo, \u00e9 preciso garantir que as pessoas v\u00eaem que estamos a fazer o que \u00e9 necess\u00e1rio para levar a cabo uma transi\u00e7\u00e3o justa e social, porque, obviamente, a justi\u00e7a social verde est\u00e1 no centro do nosso programa pol\u00edtico, e queremos ter a certeza de que as medidas clim\u00e1ticas ser\u00e3o equilibradas gra\u00e7as a medidas de apoio aos cidad\u00e3os, durante a transi\u00e7\u00e3o\u0022. \u0022Queremos tornar a agricultura uma quest\u00e3o-chave nesta campanha eleitoral\u0022 Euronews : \u201cEst\u00e1 a falar de apoiar os cidad\u00e3os. E os agricultores? Eles t\u00eam reclamado apoios da UE, manifestaram-se contra o Pacto Ecol\u00f3gico Europeu. O que tenciona fazer para os apoiar?\u0022 Terry Reintke : \u201cEu voltaria a reenquadrar um pouco o que temos visto nos \u00faltimos meses, porque eu pr\u00f3prio venho de uma fam\u00edlia de agricultores. N\u00e3o cresci numa quinta, mas o meu pai cresceu. Os problemas que eles t\u00eam n\u00e3o v\u00eam do Pacto Ecol\u00f3gico. Basicamente, devem-se ao modelo agr\u00edcola que temos hoje e \u00e0s pol\u00edticas agr\u00edcolas da Uni\u00e3o Europeia, com os subs\u00eddios a serem distribu\u00eddos da forma que s\u00e3o, os agricultores n\u00e3o est\u00e3o a ter o rendimento que merecem. E muitos nem sequer t\u00eam o rendimento de que precisam para viver do seu trabalho. Por isso, o que queremos fazer \u00e9 tornar a agricultura uma quest\u00e3o-chave nesta campanha eleitoral, e dizer que a pol\u00edtica agr\u00edcola da Uni\u00e3o Europeia tomou uma dire\u00e7\u00e3o errada no ado. Sim, precisamos de a reformar e precisamos de garantir que os agricultores, e especialmente os pequenos agricultores, recebam o apoio de que precisam para criar seguran\u00e7a alimentar, para serem parte da mudan\u00e7a no que diz respeito \u00e0 prote\u00e7\u00e3o ambiental e clim\u00e1tica, mas tamb\u00e9m, muito substancialmente, para poderem viver do que fazem, porque tenho muito apre\u00e7o pelos agricultores na Europa\u201d. Euronews : \u201cSignifica mais subs\u00eddios para os agricultores ou uma remodela\u00e7\u00e3o dos subs\u00eddios?\u201d Terry Reintke : \u0022Diria que precisamos definitivamente de uma remodela\u00e7\u00e3o dos subs\u00eddios. Uma das coisas que temos vindo a criticar h\u00e1 muito tempo \u00e9 o facto de, ainda hoje, a maior parte dos subs\u00eddios serem atribu\u00eddos em fun\u00e7\u00e3o da dimens\u00e3o. Basicamente, n\u00e3o importa se a agricultura \u00e9 praticada de acordo com aspetos de sustentabilidade, como, por exemplo, aspetos ecol\u00f3gicos ou sociais, o que importa \u00e9 a dimens\u00e3o. Isso tamb\u00e9m significa que, obviamente, as explora\u00e7\u00f5es agr\u00edcolas maiores, e nalguns casos as chamadas explora\u00e7\u00f5es agr\u00edcolas, s\u00e3o grandes empresas agro-industriais, recebem basicamente a maior parte dos subs\u00eddios agr\u00edcolas. E gostar\u00edamos de inverter esta situa\u00e7\u00e3o, por exemplo, atrav\u00e9s de uma condicionalidade no que respeita \u00e0s normas ecol\u00f3gicas e sociais, mas tamb\u00e9m atrav\u00e9s de um limite m\u00e1ximo. Portanto, ter um m\u00e1ximo do que se pode obter como subs\u00eddios agr\u00edcolas e, depois, o dinheiro que sobra e que n\u00e3o \u00e9 dado \u00e0 grande ind\u00fastria agr\u00edcola, d\u00e1-lo basicamente aos pequenos agricultores e, especialmente, \u00e0 agricultura familiar, porque sabemos que nas nossas zonas rurais s\u00e3o muitas vezes estas pequenas explora\u00e7\u00f5es, estas fam\u00edlias de agricultores que tamb\u00e9m est\u00e3o a criar a vida, a cultura dessas zonas\u0022. Europa deve preparar-se para a transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica e industrial Euronews : \u201cA transi\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica deveria criar milhares de empregos e colocar o setor na vanguarda da competitividade. Onde est\u00e3o todas essas promessas?\u0022 Terry Reintke : \u201cVemos que j\u00e1 existem empregos que est\u00e3o a ser criados hoje, quando olhamos, por exemplo, para a transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica, especialmente na constru\u00e7\u00e3o de energias renov\u00e1veis, que j\u00e1 est\u00e1 a criar empregos na Europa. Mas tem raz\u00e3o, ainda estamos no in\u00edcio da transforma\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica. Para garantir estes empregos, a Uni\u00e3o Europeia deve tornar realidade aquilo que foi posto no papel no que respeita \u00e0 neutralidade clim\u00e1tica. E isso significa apoiar, por exemplo, o arranque das tecnologias de hidrog\u00e9nio verde, investir em tecnologias verdes, em tecnologias de baterias, mas tamb\u00e9m construir as infra-estruturas que ser\u00e3o necess\u00e1rias para integrar verdadeiramente a Europa como continente para se preparar para a transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica, para se preparar para a transi\u00e7\u00e3o industrial. E para isso vamos precisar de muito mais Europa em vez de menos Europa, porque vimos que os Estados-Membros muitas vezes ainda n\u00e3o est\u00e3o a agir de forma coordenada no que diz respeito \u00e0 pol\u00edtica industrial. E creio que s\u00f3 com investimento a n\u00edvel europeu poderemos vencer este grande desafio que temos pela frente\u0022. Euronews : \u201cA China parece dominar o setor das energias limpas e parece impar\u00e1vel. \u00c9 poss\u00edvel continuar a ser competitivo nestes novos setores?\u0022 Terry Reintke : \u201cAcredito absolutamente que sim, quando trabalhamos em conjunto enquanto Europa, e eu venho do Estado-Membro mais populoso, um Estado-Membro muito industrial. A Alemanha ainda tem muita ind\u00fastria, mas consigo ver claramente que as pessoas nas zonas rurais, as grandes empresas, mas tamb\u00e9m as pequenas e m\u00e9dias empresas, sabem que s\u00f3 com uma estrat\u00e9gia europeia, s\u00f3 com o modelo europeu, podemos competir com a China e tamb\u00e9m com os EUA neste momento. Mas para isso precisamos de tomar as decis\u00f5es certas. Para mim, \u00e9 fundamental ter um programa de investimento maci\u00e7o a n\u00edvel europeu que incentive os Estados-Membros a seguir esse caminho, o que tamb\u00e9m facilita alguns dos processos de planeamento, porque o dinheiro vem de um bolo europeu comum e n\u00e3o s\u00e3o apenas os Estados-Membros a pressionar para defender os seus interesses. Neste momento, numa s\u00e9rie de tecnologias, a Europa j\u00e1 n\u00e3o est\u00e1 no topo, mas acredito firmemente que podemos voltar a estar. E com isso, podemos construir um futuro mais brilhante e podemos realmente competir \u00e0 escala global\u0022. Euronews : \u201ara voltar a ser competitiva, acha que a sua proposta no seu manifesto de um programa de investimento de 200 mil milh\u00f5es de euros por ano seria suficiente? Terry Reintke : \u201cSe seria suficiente? se olharmos para as grandes necessidades de investimento que temos, e n\u00e3o estou a falar apenas da ind\u00fastria, estou tamb\u00e9m a falar de uma forma de renova\u00e7\u00e3o dos nossos edif\u00edcios vemos que h\u00e1 muitas necessidades. Este assunto tem suscitado muitos debates na Europa, a quest\u00e3o de como tornar o nosso setor da constru\u00e7\u00e3o neutro em termos de clima, a quest\u00e3o da mobilidade. \u00c9 \u00f3bvio que temos muitas necessidades. Ao mesmo tempo, temos de come\u00e7ar por algum lado. \u00c9 importante come\u00e7ar por este ponto e dizer tamb\u00e9m que o investimento p\u00fablico pode incentivar ainda mais o investimento privado. Muitas das coisas de que estamos a falar n\u00e3o v\u00e3o obviamente ser financiadas apenas pelo p\u00fablico e que muitos investidores privados est\u00e3o muito interessados, mas precisam de ver que estamos prontos. Por exemplo, precisam de ver que estamos prontos para construir as infra-estruturas para as empresas industriais, para produzir a\u00e7o verde e construir chips na Europa. E, para isso, \u00e9 necess\u00e1rio investimento p\u00fablico para que haja mais interesse, tamb\u00e9m por parte dos investidores privados, em colocar o dinheiro na Europa. E eu acredito firmemente que se tomarmos as decis\u00f5es corretas agora, podemos iniciar uma nova din\u00e2mica\u0022. Euronews : \u201cDe onde viria o dinheiro?\u0022 Terry Reintke: \u0022 Posso dizer-lhe uma coisa. Penso que se n\u00e3o investirmos agora, e vimo-lo recentemente com um estudo do Instituto de Potsdam, os custos que teremos de ar muito em breve, n\u00e3o daqui a 50 anos, mas j\u00e1 nos pr\u00f3ximos anos, s\u00e3o muito mais elevados do que o dinheiro que podemos investir agora na cria\u00e7\u00e3o de uma transforma\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica. Por isso, para mim, n\u00e3o se trata apenas de colocar a quest\u00e3o ao n\u00edvel desta gera\u00e7\u00e3o, mas, por exemplo, de utilizar de forma sustent\u00e1vel o d\u00e9bito e o cr\u00e9dito para financiar esta transi\u00e7\u00e3o, o que, a longo prazo, vai tornar as nossas vidas mais baratas, porque, por exemplo, a energia e\u00f3lica e a energia solar s\u00e3o energias n\u00e3o s\u00e3o apenas energias renov\u00e1veis, mas tamb\u00e9m nos tornam menos dependentes dos autocratas. Por isso, temos muito interesse em fazer a transi\u00e7\u00e3o. Penso que \u00e9 o caminho certo a seguir. E, se houver austeridade na Europa, isso criar\u00e1 um espa\u00e7o demasiado apertado para fazermos estes investimentos. E esse seria exatamente o caminho errado a seguir. Euronews : \u201cO vosso programa centra-se na prote\u00e7\u00e3o do clima e na luta contra as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Como \u00e9 que este programa pode responder aos desafios internacionais da paz e da seguran\u00e7a? Terry Reintke: \u201cDigo sempre que o Pacto Ecol\u00f3gico e a quest\u00e3o da seguran\u00e7a na Europa s\u00e3o duas faces da mesma moeda, porque de facto, e especialmente como algu\u00e9m que vem da Alemanha, vimos que nos torn\u00e1mos muito vulner\u00e1veis em termos de seguran\u00e7a, porque est\u00e1vamos muito dependentes das importa\u00e7\u00f5es de f\u00f3sseis, por exemplo, de Vladimir Putin. O Pacto Ecol\u00f3gico, a energia e\u00f3lica e solar, a economia sustent\u00e1vel e circular, as mat\u00e9rias-primas essenciais e outros recursos, a ind\u00fastria e a economia mais auto-suficientes s\u00e3o o caminho a seguir. Para n\u00f3s, \u00e9 por isso que a concretiza\u00e7\u00e3o do Pacto Ecol\u00f3gico, a exist\u00eancia de fontes de energia que n\u00e3o dependam de autocratas, faz parte de uma estrat\u00e9gia de seguran\u00e7a de que a Europa necessita urgentemente, porque vemos que o mundo est\u00e1 a tornar-se um lugar mais inseguro. Por isso, para n\u00f3s, europeus, \u00e9 essencial trabalhar em conjunto e construir um sistema econ\u00f3mico que n\u00e3o s\u00f3 seja sustent\u00e1vel, mas que tamb\u00e9m nos torne menos dependentes. Investimento europeu na defesa deve ser mais eficiente Euronews : \u201cEstamos a entrar, como disse, num mundo mais inseguro. Como podemos proteger a UE quando vemos a R\u00fassia a invadir a Ucr\u00e2nia? A ideia de uma d\u00edvida comum para construir ou comprar armas pode ser uma possibilidade para refor\u00e7ar a seguran\u00e7a europeia?\u0022 Terry Reintke : Neste momento, quando falamos da ind\u00fastria da defesa, \u00e9 frequente falar-se em investir mais. No entanto, quando olhamos para a forma como a Europa est\u00e1 a investir atualmente, o que faria sentido como ponto de partida seria investir de forma mais eficiente. Segundo certos estudos comparativos, o nosso investimento em defesa \u00e9 inferior ao investimento dos Estados Unidos e, por outro lado, o nosso dinheiro \u00e9 gasto de forma muito ineficaz, porque, muitas vezes, n\u00e3o existe uma abordagem integrada e coordenada entre os Estados-Membros. Os Estados-Membros t\u00eam a sua pr\u00f3pria ind\u00fastria de defesa que est\u00e3o a tentar apoiar. Isto cria uma situa\u00e7\u00e3o em que n\u00e3o estamos a investir de uma forma que fa\u00e7a mais sentido para que a Europa esteja preparada para agir no caso de um ataque, por exemplo. E para isso precisamos de ter mais coordena\u00e7\u00e3o a partir de Bruxelas\u0022. Euronews : \u201cQue mais podemos fazer para apoiar a Ucr\u00e2nia?\u0022 Terry Reintke : \u201enso que, neste momento, continuar a apoiar militarmente \u00e9 importante, mas n\u00e3o \u00e9 obviamente tudo. Acab\u00e1mos de adotar, com um pouco de atraso devido aos jogos e \u00e0 chantagem que Viktor Orban estava a tentar fazer, um pacote de apoio financeiro, que \u00e9 essencial para a Ucr\u00e2nia neste momento. O apoio de que necessitam \u00e9 muito b\u00e1sico. Mas tamb\u00e9m penso que precisamos de ter um caminho pol\u00edtico e uma perspetiva pol\u00edtica para as pessoas na Ucr\u00e2nia, porque esta guerra j\u00e1 dura h\u00e1 anos. E, obviamente, as pessoas precisam de ver como podem construir um pa\u00eds baseado na democracia e na liberdade, que depois tamb\u00e9m ser\u00e1 integrado na Uni\u00e3o Europeia. Assim, apesar do facto de esta guerra estar em curso, penso que \u00e9 absolutamente crucial avan\u00e7ar tamb\u00e9m com o processo de alargamento e ades\u00e3o da Ucr\u00e2nia\u0022. \u0022\u00c9 preciso um processo pol\u00edtico que nos permita regressar ao caminho da negocia\u00e7\u00e3o\u0022 Euronews : \u201cSobre outra guerra entre Israel e o Hamas. O que \u00e9 que a UE pode fazer? A guerra mostrou que a UE est\u00e1 dividida. O que \u00e9 que os 27 Estados-Membros podem fazer neste momento? Terry Reintke : \u201cEm primeiro lugar, um desenvolvimento muito positivo \u00e9 o facto de haver agora um apelo muito mais forte e unido por parte da Uni\u00e3o Europeia para um cessar-fogo. Isso \u00e9 urgente, a par, claro, da liberta\u00e7\u00e3o dos ref\u00e9ns. Espero que, muito em breve, vejamos desenvolvimentos positivos nessa dire\u00e7\u00e3o. Ao mesmo tempo, verificamos tamb\u00e9m que a situa\u00e7\u00e3o humanit\u00e1ria em Gaza se deteriorou muito nos \u00faltimos meses. A Uni\u00e3o Europeia j\u00e1 deu muito apoio humanit\u00e1rio, mas temos de garantir que esse apoio humanit\u00e1rio, e estamos a falar de alimentos, \u00e1gua, necessidades m\u00e9dicas b\u00e1sicas que t\u00eam de ser satisfeitas, chegue efetivamente \u00e0s pessoas. Penso que, para tal, seria fundamental que os Estados-Membros, mas tamb\u00e9m a Comiss\u00e3o Europeia, dessem um impulso mais forte para que isso fosse poss\u00edvel, mas, ao mesmo tempo, se me permitem acrescentar, \u00e9 \u00f3bvio que este conflito n\u00e3o ser\u00e1 resolvido apenas com o envio de ajuda humanit\u00e1ria. \u00c9 preciso um processo pol\u00edtico que nos permita regressar ao caminho da negocia\u00e7\u00e3o de uma solu\u00e7\u00e3o de dois Estados e que ambas as partes estejam dispostas a sentar-se e a torn\u00e1-la realidade\u0022. Euronews : \u0022Deve haver san\u00e7\u00f5es contra Israel?\u0022 Terry Reintke : \u201enso que devemos exercer press\u00e3o sobre Israel, que devemos, por exemplo, utilizar o Acordo de Associa\u00e7\u00e3o que temos para dizer: \u0022o que est\u00e1 a acontecer neste momento n\u00e3o \u00e9 bom. Tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 bom para a seguran\u00e7a de Israel e dos cidad\u00e3os israelitas, porque precisamos de encontrar uma solu\u00e7\u00e3o. E para isso, penso que existem formas, incluindo, por exemplo, agora com a nova escalada da guerra em Gaza, de apelar \u00e0 conten\u00e7\u00e3o. E tamb\u00e9m exercer press\u00e3o para permitir a entrada de ajuda humanit\u00e1ria, ao mesmo tempo que, e volto a dizer isto, \u00e9 muito importante que tenhamos planos a longo prazo. E penso que s\u00f3 a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o ser\u00e1 suficiente. \u00c9 preciso que os Estados \u00e1rabes e os EUA desempenhem um papel positivo nesta quest\u00e3o, porque, de outra forma, n\u00e3o vejo que haja um caminho para uma solu\u00e7\u00e3o duradoura, sustent\u00e1vel e pac\u00edfica. Euronews : \u201cEm rela\u00e7\u00e3o ao novo pacto de migra\u00e7\u00e3o, os Verdes disseram que era um falhan\u00e7o de solidariedade. No entanto, o pacto cria medidas e processos entre os Estados-Membros e por isso eles disseram que era um mecanismo de solidariedade. Terry Reintke : \u201cAntes de mais, deixe-me dizer que h\u00e1 partes do pacto de migra\u00e7\u00e3o em que vot\u00e1mos a favor e outras em que vot\u00e1mos contra, e temos uma vis\u00e3o diferenciada. No entanto, se olharmos para os grandes desafios que temos pela frente, n\u00e3o vejo que esse pacto v\u00e1 resolver as quest\u00f5es em causa. E \u00e9 verdade que h\u00e1 alguns primeiros os positivos. O que \u00e9 realmente preciso \u00e9 ter um mecanismo de solidariedade que funcione corretamente, um mecanismo que permita a partilha de responsabilidades entre os Estados-Membros. E isso n\u00e3o \u00e9 uma parte obrigat\u00f3ria deste pacto. Al\u00e9m disso, se me permitem, a forma como agora foi tomada a decis\u00e3o, por exemplo, de criar campos externos fora das fronteiras da UE, e para poder tamb\u00e9m deter crian\u00e7as e fam\u00edlias. Por isso, para mim, este pacto n\u00e3o \u00e9 certamente a solu\u00e7\u00e3o de que precisamos urgentemente. Porque \u00e9 verdade que a situa\u00e7\u00e3o nas fronteiras externas da Uni\u00e3o Europeia \u00e9 in\u00e1vel, \u00e9 inaceit\u00e1vel. Mas, para que isso aconte\u00e7a, teremos de ter um sistema de asilo melhor, mais sustent\u00e1vel e mais resistente. \u0022Queremos assumir responsabilidades\u0022 Euronews : \u201cDe acordo com as sondagens, os Verdes perderiam 20 lugares no pr\u00f3ximo Parlamento. Est\u00e1 preocupado com a possibilidade de ser marginalizado no pr\u00f3ximo Parlamento? Terry Reintke : \u201odemos falar de sondagens. Podemos falar de realidades. E nas \u00faltimas elei\u00e7\u00f5es, por exemplo, at\u00e9 muito perto do ato eleitoral, n\u00e3o era muito claro que ir\u00edamos ter um sucesso t\u00e3o grande. Por isso, agora estamos em modo de campanha eleitoral. Estamos a lutar. O slogan que temos \u00e9: coragem. E penso que esta \u00e9 tamb\u00e9m a atitude com que vamos para as elei\u00e7\u00f5es. Nos \u00faltimos anos, com a legisla\u00e7\u00e3o do Pacto Ecol\u00f3gico, mas tamb\u00e9m com a legisla\u00e7\u00e3o social, com a defesa do Estado de direito, mostr\u00e1mos que estamos prontos para apresentar as nossas propostas, que fomos bem sucedidos em muitos aspetos. Mas tamb\u00e9m que queremos assumir responsabilidades. Euronews : \u201cA pr\u00f3xima maioria poder\u00e1 estar mais \u00e0 direita, mesmo \u00e0 direita radical. Est\u00e3o dispostos a fazer alguns sacrif\u00edcios no vosso programa para garantir que haja uma maioria pr\u00f3-europeia no pr\u00f3ximo Parlamento? Terry Reintke: \u201cOs debates e as negocia\u00e7\u00f5es ter\u00e3o lugar ap\u00f3s as elei\u00e7\u00f5es. Mas o que posso dizer desde j\u00e1 \u00e9 que no dia das elei\u00e7\u00f5es, nos dias das elei\u00e7\u00f5es, para ser precisa, os cidad\u00e3os t\u00eam a op\u00e7\u00e3o de escolher se querem ter uma maioria mais \u00e0 direita no Parlamento Europeu, potencialmente com for\u00e7as de extrema-direita autorit\u00e1rias a influenciar o programa da Comiss\u00e3o Europeia, Em termos do Pacto Ecol\u00f3gico e em termos de pol\u00edtica social, seria um o atr\u00e1s, mas tamb\u00e9m seria um o atr\u00e1s ao n\u00edvel da capacidade de decis\u00e3o c\u00e9lere do Parlamento Europeu. A outra escolha dos eleitores , a escolha que obviamente eu defenderia, \u00e9 ter pol\u00edticas progressistas, ecologistas, viradas para o futuro, orientadas para o futuro. E vou dar tudo por tudo nesta campanha nas pr\u00f3ximas semanas para que as pessoas escolham a \u00faltima op\u00e7\u00e3o, porque acredito que \u00e9 crucial, n\u00e3o s\u00f3 para a Europa, mas basicamente para todo o mundo, que continuemos a ser um ator que, interna mas tamb\u00e9m externamente, luta pelos seus valores, pela liberdade, pela democracia\u0022. Euronews : \u201cComo avalia o mandato de von der Leyen como Presidente da Comiss\u00e3o?\u0022 Terry Reintke : \u201cMentiria se dissesse que ela n\u00e3o fez avan\u00e7ar coisas muito positivas. Nestes cinco anos, obviamente, houve a legisla\u00e7\u00e3o do Pacto Ecol\u00f3gico. O fim do motor de combust\u00e3o, a reforma do com\u00e9rcio de emiss\u00f5es foram os corretos. Ao mesmo tempo, pudemos ver que, especialmente no final da legislatura, ela perdeu realmente\u00a0 tra\u00e7\u00e3o, sobretudo devido \u00e0 resist\u00eancia que enfrentou do seu pr\u00f3prio partido, o Partido Popular Europeu, que come\u00e7ou a atacar, cada vez mais, o Pacto Ecol\u00f3gico, e a abandonar as maiorias progressistas e pr\u00f3-europeias no Parlamento Europeu, mesmo quando falamos da lei da restaura\u00e7\u00e3o da natureza. Por isso, para mim, \u00e9 bastante claro que ela fez um bom trabalho, que fez avan\u00e7ar as coisas na \u00faltima legislatura, mas n\u00e3o \u00e9 absolutamente claro se vai continuar a faz\u00ea-lo. Portanto, se as pessoas quiserem que esta agenda continue, ter\u00e3o de votar nos Verdes, porque somos os \u00fanicos que t\u00eam um caminho estrat\u00e9gico muito claro e vamos lutar para o tornar realidade\u0022. Euronews : \u201cAcha que o Pacto Ecol\u00f3gico pode sobreviver a estas elei\u00e7\u00f5es europeias?\u0022 Terry Reintke : \u201cVou dedicar a minha energia a torn\u00e1-lo poss\u00edvel. Continuo a acreditar firmemente que uma grande maioria dos europeus compreende que \u00e9 do seu interesse pessoal lutar pela neutralidade clim\u00e1tica, para manter este planeta habit\u00e1vel para os seres humanos, mas tamb\u00e9m \u00e9 do interesse econ\u00f3mico que a Uni\u00e3o Europeia n\u00e3o fique atr\u00e1s da China ou dos EUA, ou de outros intervenientes globais, no que se refere \u00e0 ind\u00fastria e \u00e0 economia ecol\u00f3gicas. E este \u00e9 o argumento que, a meu ver, convence muitas pessoas, e especialmente quando viajo e fa\u00e7o campanha na Europa Central e de Leste com o aspeto da seguran\u00e7a: o Pacto Ecol\u00f3gico \u00e9 uma parte crucial do puzzle para tornar a Europa um continente mais seguro\u0022. ", "dateCreated": "2024-04-25T10:26:04+02:00", "dateModified": "2024-05-10T16:30:21+02:00", "datePublished": "2024-05-10T16:30:21+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F39%2F74%2F84%2F1440x810_cmsv2_92b8419f-00b4-5a29-a75b-f94ea74d0a00-8397484.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "\u0022O Pacto Ecol\u00f3gico Europeu \u00e9 uma parte crucial do puzzle para tornar a Europa um continente mais seguro\u0022, defende a candidata dos Verdes \u00e0s elei\u00e7\u00f5es para o Parlamento Europeu, Terry Reintke.", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F08%2F39%2F74%2F84%2F432x243_cmsv2_92b8419f-00b4-5a29-a75b-f94ea74d0a00-8397484.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Lory", "givenName": "Gregoire", "name": "Gregoire Lory", "url": "/perfis/1112", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "memberOf": { "@type": "Organization", "name": "Equipe de langue fran\u00e7aise " } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Mundo" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }

Os Verdes: Para Terry Reintke, ecologia e segurança são duas faces da mesma moeda

Os Verdes: Para Terry Reintke, ecologia e segurança são duas faces da mesma moeda
Direitos de autor euronews
Direitos de autor euronews
De Gregoire Lory
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

"O Pacto Ecológico Europeu é uma parte crucial do puzzle para tornar a Europa um continente mais seguro", defende a candidata dos Verdes às eleições para o Parlamento Europeu, Terry Reintke.

Os Verdes foram um dos partidos vencedores das últimas eleições europeias. Melhoraram os resultados e conquistaram os eleitores com um programa a favor do clima. Mas a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia, a inflação e o aumento dos custos da energia viraram a União Europeia do avesso no espaço de cinco anos.  Hoje, as ambições climáticas europeias são responsabilizadas por quase todos os males. A euronews entrevistou Terry Reintke, candidata dos Verdes às eleições para o Parlamento Europeu.

Euronews: "Como é que vai convencer os cidadãos, que parecem menos dispostos a fazer esforços pelo clima?"

Terry Reintke : “O que eu gostaria de fazer é, obviamente, convencer as pessoas de que temos de manter o rumo da neutralidade climática, porque isso é do interesse de todos. Já estamos a ver as consequências terríveis que a crise climática tem atualmente, e especialmente na Europa, porque a Europa é o continente do mundo que está a aquecer mais rapidamente. Mas, ao mesmo tempo, é preciso garantir que as pessoas vêem que estamos a fazer o que é necessário para levar a cabo uma transição justa e social, porque, obviamente, a justiça social verde está no centro do nosso programa político, e queremos ter a certeza de que as medidas climáticas serão equilibradas graças a medidas de apoio aos cidadãos, durante a transição".

"Queremos tornar a agricultura uma questão-chave nesta campanha eleitoral"

Euronews: “Está a falar de apoiar os cidadãos. E os agricultores? Eles têm reclamado apoios da UE, manifestaram-se contra o Pacto Ecológico Europeu. O que tenciona fazer para os apoiar?"

Terry Reintke: “Eu voltaria a reenquadrar um pouco o que temos visto nos últimos meses, porque eu próprio venho de uma família de agricultores. Não cresci numa quinta, mas o meu pai cresceu. Os problemas que eles têm não vêm do Pacto Ecológico. Basicamente, devem-se ao modelo agrícola que temos hoje e às políticas agrícolas da União Europeia, com os subsídios a serem distribuídos da forma que são, os agricultores não estão a ter o rendimento que merecem. E muitos nem sequer têm o rendimento de que precisam para viver do seu trabalho. Por isso, o que queremos fazer é tornar a agricultura uma questão-chave nesta campanha eleitoral, e dizer que a política agrícola da União Europeia tomou uma direção errada no ado. Sim, precisamos de a reformar e precisamos de garantir que os agricultores, e especialmente os pequenos agricultores, recebam o apoio de que precisam para criar segurança alimentar, para serem parte da mudança no que diz respeito à proteção ambiental e climática, mas também, muito substancialmente, para poderem viver do que fazem, porque tenho muito apreço pelos agricultores na Europa”.

O Pacto Ecológico é uma parte crucial do puzzle para tornar a Europa um continente mais seguro.
Terry Reintke, candidata dos Verdes às eleições para o Parlamento Europeu

Euronews: “Significa mais subsídios para os agricultores ou uma remodelação dos subsídios?”

Terry Reintke: "Diria que precisamos definitivamente de uma remodelação dos subsídios. Uma das coisas que temos vindo a criticar há muito tempo é o facto de, ainda hoje, a maior parte dos subsídios serem atribuídos em função da dimensão. Basicamente, não importa se a agricultura é praticada de acordo com aspetos de sustentabilidade, como, por exemplo, aspetos ecológicos ou sociais, o que importa é a dimensão. Isso também significa que, obviamente, as explorações agrícolas maiores, e nalguns casos as chamadas explorações agrícolas, são grandes empresas agro-industriais, recebem basicamente a maior parte dos subsídios agrícolas. E gostaríamos de inverter esta situação, por exemplo, através de uma condicionalidade no que respeita às normas ecológicas e sociais, mas também através de um limite máximo. Portanto, ter um máximo do que se pode obter como subsídios agrícolas e, depois, o dinheiro que sobra e que não é dado à grande indústria agrícola, dá-lo basicamente aos pequenos agricultores e, especialmente, à agricultura familiar, porque sabemos que nas nossas zonas rurais são muitas vezes estas pequenas explorações, estas famílias de agricultores que também estão a criar a vida, a cultura dessas zonas".

Europa deve preparar-se para a transição energética e industrial

Euronews: “A transição climática deveria criar milhares de empregos e colocar o setor na vanguarda da competitividade. Onde estão todas essas promessas?"

Terry Reintke: “Vemos que já existem empregos que estão a ser criados hoje, quando olhamos, por exemplo, para a transição energética, especialmente na construção de energias renováveis, que já está a criar empregos na Europa. Mas tem razão, ainda estamos no início da transformação ecológica. Para garantir estes empregos, a União Europeia deve tornar realidade aquilo que foi posto no papel no que respeita à neutralidade climática. E isso significa apoiar, por exemplo, o arranque das tecnologias de hidrogénio verde, investir em tecnologias verdes, em tecnologias de baterias, mas também construir as infra-estruturas que serão necessárias para integrar verdadeiramente a Europa como continente para se preparar para a transição energética, para se preparar para a transição industrial. E para isso vamos precisar de muito mais Europa em vez de menos Europa, porque vimos que os Estados-Membros muitas vezes ainda não estão a agir de forma coordenada no que diz respeito à política industrial. E creio que só com investimento a nível europeu poderemos vencer este grande desafio que temos pela frente".

Euronews: “A China parece dominar o setor das energias limpas e parece imparável. É possível continuar a ser competitivo nestes novos setores?"

Terry Reintke: “Acredito absolutamente que sim, quando trabalhamos em conjunto enquanto Europa, e eu venho do Estado-Membro mais populoso, um Estado-Membro muito industrial. A Alemanha ainda tem muita indústria, mas consigo ver claramente que as pessoas nas zonas rurais, as grandes empresas, mas também as pequenas e médias empresas, sabem que só com uma estratégia europeia, só com o modelo europeu, podemos competir com a China e também com os EUA neste momento. Mas para isso precisamos de tomar as decisões certas. Para mim, é fundamental ter um programa de investimento maciço a nível europeu que incentive os Estados-Membros a seguir esse caminho, o que também facilita alguns dos processos de planeamento, porque o dinheiro vem de um bolo europeu comum e não são apenas os Estados-Membros a pressionar para defender os seus interesses. Neste momento, numa série de tecnologias, a Europa já não está no topo, mas acredito firmemente que podemos voltar a estar. E com isso, podemos construir um futuro mais brilhante e podemos realmente competir à escala global".

Euronews: “Para voltar a ser competitiva, acha que a sua proposta no seu manifesto de um programa de investimento de 200 mil milhões de euros por ano seria suficiente?

Terry Reintke: “Se seria suficiente? se olharmos para as grandes necessidades de investimento que temos, e não estou a falar apenas da indústria, estou também a falar de uma forma de renovação dos nossos edifícios vemos que há muitas necessidades. Este assunto tem suscitado muitos debates na Europa, a questão de como tornar o nosso setor da construção neutro em termos de clima, a questão da mobilidade. É óbvio que temos muitas necessidades. Ao mesmo tempo, temos de começar por algum lado. É importante começar por este ponto e dizer também que o investimento público pode incentivar ainda mais o investimento privado. Muitas das coisas de que estamos a falar não vão obviamente ser financiadas apenas pelo público e que muitos investidores privados estão muito interessados, mas precisam de ver que estamos prontos. Por exemplo, precisam de ver que estamos prontos para construir as infra-estruturas para as empresas industriais, para produzir aço verde e construir chips na Europa. E, para isso, é necessário investimento público para que haja mais interesse, também por parte dos investidores privados, em colocar o dinheiro na Europa. E eu acredito firmemente que se tomarmos as decisões corretas agora, podemos iniciar uma nova dinâmica".

Euronews: “De onde viria o dinheiro?"

**Terry Reintke: "**Posso dizer-lhe uma coisa. Penso que se não investirmos agora, e vimo-lo recentemente com um estudo do Instituto de Potsdam, os custos que teremos de ar muito em breve, não daqui a 50 anos, mas já nos próximos anos, são muito mais elevados do que o dinheiro que podemos investir agora na criação de uma transformação ecológica. Por isso, para mim, não se trata apenas de colocar a questão ao nível desta geração, mas, por exemplo, de utilizar de forma sustentável o débito e o crédito para financiar esta transição, o que, a longo prazo, vai tornar as nossas vidas mais baratas, porque, por exemplo, a energia eólica e a energia solar são energias não são apenas energias renováveis, mas também nos tornam menos dependentes dos autocratas. Por isso, temos muito interesse em fazer a transição. Penso que é o caminho certo a seguir. E, se houver austeridade na Europa, isso criará um espaço demasiado apertado para fazermos estes investimentos. E esse seria exatamente o caminho errado a seguir.

Euronews: “O vosso programa centra-se na proteção do clima e na luta contra as alterações climáticas. Como é que este programa pode responder aos desafios internacionais da paz e da segurança?

Terry Reintke: “Digo sempre que o Pacto Ecológico e a questão da segurança na Europa são duas faces da mesma moeda, porque de facto, e especialmente como alguém que vem da Alemanha, vimos que nos tornámos muito vulneráveis em termos de segurança, porque estávamos muito dependentes das importações de fósseis, por exemplo, de Vladimir Putin. O Pacto Ecológico, a energia eólica e solar, a economia sustentável e circular, as matérias-primas essenciais e outros recursos, a indústria e a economia mais auto-suficientes são o caminho a seguir. Para nós, é por isso que a concretização do Pacto Ecológico, a existência de fontes de energia que não dependam de autocratas, faz parte de uma estratégia de segurança de que a Europa necessita urgentemente, porque vemos que o mundo está a tornar-se um lugar mais inseguro. Por isso, para nós, europeus, é essencial trabalhar em conjunto e construir um sistema económico que não só seja sustentável, mas que também nos torne menos dependentes.

Investimento europeu na defesa deve ser mais eficiente

Euronews: “Estamos a entrar, como disse, num mundo mais inseguro. Como podemos proteger a UE quando vemos a Rússia a invadir a Ucrânia? A ideia de uma dívida comum para construir ou comprar armas pode ser uma possibilidade para reforçar a segurança europeia?"

Terry Reintke : Neste momento, quando falamos da indústria da defesa, é frequente falar-se em investir mais. No entanto, quando olhamos para a forma como a Europa está a investir atualmente, o que faria sentido como ponto de partida seria investir de forma mais eficiente. Segundo certos estudos comparativos, o nosso investimento em defesa é inferior ao investimento dos Estados Unidos e, por outro lado, o nosso dinheiro é gasto de forma muito ineficaz, porque, muitas vezes, não existe uma abordagem integrada e coordenada entre os Estados-Membros. Os Estados-Membros têm a sua própria indústria de defesa que estão a tentar apoiar. Isto cria uma situação em que não estamos a investir de uma forma que faça mais sentido para que a Europa esteja preparada para agir no caso de um ataque, por exemplo. E para isso precisamos de ter mais coordenação a partir de Bruxelas".

Euronews: “Que mais podemos fazer para apoiar a Ucrânia?"

Terry Reintke : “Penso que, neste momento, continuar a apoiar militarmente é importante, mas não é obviamente tudo. Acabámos de adotar, com um pouco de atraso devido aos jogos e à chantagem que Viktor Orban estava a tentar fazer, um pacote de apoio financeiro, que é essencial para a Ucrânia neste momento. O apoio de que necessitam é muito básico. Mas também penso que precisamos de ter um caminho político e uma perspetiva política para as pessoas na Ucrânia, porque esta guerra já dura há anos. E, obviamente, as pessoas precisam de ver como podem construir um país baseado na democracia e na liberdade, que depois também será integrado na União Europeia. Assim, apesar do facto de esta guerra estar em curso, penso que é absolutamente crucial avançar também com o processo de alargamento e adesão da Ucrânia".

"É preciso um processo político que nos permita regressar ao caminho da negociação"

Euronews: “Sobre outra guerra entre Israel e o Hamas. O que é que a UE pode fazer? A guerra mostrou que a UE está dividida. O que é que os 27 Estados-Membros podem fazer neste momento?

Terry Reintke: “Em primeiro lugar, um desenvolvimento muito positivo é o facto de haver agora um apelo muito mais forte e unido por parte da União Europeia para um cessar-fogo. Isso é urgente, a par, claro, da libertação dos reféns. Espero que, muito em breve, vejamos desenvolvimentos positivos nessa direção. Ao mesmo tempo, verificamos também que a situação humanitária em Gaza se deteriorou muito nos últimos meses. A União Europeia já deu muito apoio humanitário, mas temos de garantir que esse apoio humanitário, e estamos a falar de alimentos, água, necessidades médicas básicas que têm de ser satisfeitas, chegue efetivamente às pessoas. Penso que, para tal, seria fundamental que os Estados-Membros, mas também a Comissão Europeia, dessem um impulso mais forte para que isso fosse possível, mas, ao mesmo tempo, se me permitem acrescentar, é óbvio que este conflito não será resolvido apenas com o envio de ajuda humanitária. É preciso um processo político que nos permita regressar ao caminho da negociação de uma solução de dois Estados e que ambas as partes estejam dispostas a sentar-se e a torná-la realidade".

Euronews: "Deve haver sanções contra Israel?"

Terry Reintke : “Penso que devemos exercer pressão sobre Israel, que devemos, por exemplo, utilizar o Acordo de Associação que temos para dizer: "o que está a acontecer neste momento não é bom. Também não é bom para a segurança de Israel e dos cidadãos israelitas, porque precisamos de encontrar uma solução. E para isso, penso que existem formas, incluindo, por exemplo, agora com a nova escalada da guerra em Gaza, de apelar à contenção. E também exercer pressão para permitir a entrada de ajuda humanitária, ao mesmo tempo que, e volto a dizer isto, é muito importante que tenhamos planos a longo prazo. E penso que só a União Europeia não será suficiente. É preciso que os Estados árabes e os EUA desempenhem um papel positivo nesta questão, porque, de outra forma, não vejo que haja um caminho para uma solução duradoura, sustentável e pacífica.

Euronews: “Em relação ao novo pacto de migração, os Verdes disseram que era um falhanço de solidariedade. No entanto, o pacto cria medidas e processos entre os Estados-Membros e por isso eles disseram que era um mecanismo de solidariedade.

Terry Reintke: “Antes de mais, deixe-me dizer que há partes do pacto de migração em que votámos a favor e outras em que votámos contra, e temos uma visão diferenciada. No entanto, se olharmos para os grandes desafios que temos pela frente, não vejo que esse pacto vá resolver as questões em causa. E é verdade que há alguns primeiros os positivos. O que é realmente preciso é ter um mecanismo de solidariedade que funcione corretamente, um mecanismo que permita a partilha de responsabilidades entre os Estados-Membros. E isso não é uma parte obrigatória deste pacto. Além disso, se me permitem, a forma como agora foi tomada a decisão, por exemplo, de criar campos externos fora das fronteiras da UE, e para poder também deter crianças e famílias. Por isso, para mim, este pacto não é certamente a solução de que precisamos urgentemente. Porque é verdade que a situação nas fronteiras externas da União Europeia é inável, é inaceitável. Mas, para que isso aconteça, teremos de ter um sistema de asilo melhor, mais sustentável e mais resistente.

"Queremos assumir responsabilidades"

Euronews: “De acordo com as sondagens, os Verdes perderiam 20 lugares no próximo Parlamento. Está preocupado com a possibilidade de ser marginalizado no próximo Parlamento?

Terry Reintke : “Podemos falar de sondagens. Podemos falar de realidades. E nas últimas eleições, por exemplo, até muito perto do ato eleitoral, não era muito claro que iríamos ter um sucesso tão grande. Por isso, agora estamos em modo de campanha eleitoral. Estamos a lutar. O slogan que temos é: coragem. E penso que esta é também a atitude com que vamos para as eleições. Nos últimos anos, com a legislação do Pacto Ecológico, mas também com a legislação social, com a defesa do Estado de direito, mostrámos que estamos prontos para apresentar as nossas propostas, que fomos bem sucedidos em muitos aspetos. Mas também que queremos assumir responsabilidades.

Euronews: “A próxima maioria poderá estar mais à direita, mesmo à direita radical. Estão dispostos a fazer alguns sacrifícios no vosso programa para garantir que haja uma maioria pró-europeia no próximo Parlamento?

Terry Reintke: “Os debates e as negociações terão lugar após as eleições. Mas o que posso dizer desde já é que no dia das eleições, nos dias das eleições, para ser precisa, os cidadãos têm a opção de escolher se querem ter uma maioria mais à direita no Parlamento Europeu, potencialmente com forças de extrema-direita autoritárias a influenciar o programa da Comissão Europeia, Em termos do Pacto Ecológico e em termos de política social, seria um o atrás, mas também seria um o atrás ao nível da capacidade de decisão célere do Parlamento Europeu. A outra escolha dos eleitores , a escolha que obviamente eu defenderia, é ter políticas progressistas, ecologistas, viradas para o futuro, orientadas para o futuro. E vou dar tudo por tudo nesta campanha nas próximas semanas para que as pessoas escolham a última opção, porque acredito que é crucial, não só para a Europa, mas basicamente para todo o mundo, que continuemos a ser um ator que, interna mas também externamente, luta pelos seus valores, pela liberdade, pela democracia".

Euronews: “Como avalia o mandato de von der Leyen como Presidente da Comissão?"

Terry Reintke : “Mentiria se dissesse que ela não fez avançar coisas muito positivas. Nestes cinco anos, obviamente, houve a legislação do Pacto Ecológico. O fim do motor de combustão, a reforma do comércio de emissões foram os corretos. Ao mesmo tempo, pudemos ver que, especialmente no final da legislatura, ela perdeu realmente  tração, sobretudo devido à resistência que enfrentou do seu próprio partido, o Partido Popular Europeu, que começou a atacar, cada vez mais, o Pacto Ecológico, e a abandonar as maiorias progressistas e pró-europeias no Parlamento Europeu, mesmo quando falamos da lei da restauração da natureza. Por isso, para mim, é bastante claro que ela fez um bom trabalho, que fez avançar as coisas na última legislatura, mas não é absolutamente claro se vai continuar a fazê-lo. Portanto, se as pessoas quiserem que esta agenda continue, terão de votar nos Verdes, porque somos os únicos que têm um caminho estratégico muito claro e vamos lutar para o tornar realidade".

Euronews: “Acha que o Pacto Ecológico pode sobreviver a estas eleições europeias?"

Terry Reintke: “Vou dedicar a minha energia a torná-lo possível. Continuo a acreditar firmemente que uma grande maioria dos europeus compreende que é do seu interesse pessoal lutar pela neutralidade climática, para manter este planeta habitável para os seres humanos, mas também é do interesse económico que a União Europeia não fique atrás da China ou dos EUA, ou de outros intervenientes globais, no que se refere à indústria e à economia ecológicas. E este é o argumento que, a meu ver, convence muitas pessoas, e especialmente quando viajo e faço campanha na Europa Central e de Leste com o aspeto da segurança: o Pacto Ecológico é uma parte crucial do puzzle para tornar a Europa um continente mais seguro".

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Co-presidente dos Conservadores e Reformistas Europeus não descarta apoio ao PPE após eleições

No hemiciclo e com perguntas do público: como será conduzido o debate sobre as eleições europeias

Maxmillian Krah (AfD) vai ocupar lugar no parlamento alemão após polémicas