O governo do Cazaquistão disse à Euronews que decidiu enviar para o Brasil as caixas negras do voo da Azerbaijan Airlines que se despenhou, para que estas sejam analisadas e o acidente seja esclarecido de forma completa e transparente.
No comunicado, o governo de Astana diz ter tomado esta decisão pelo facto de o avião da Azal ter sido fabricado no Brasil. O país esclareceu ainda que a decisão foi tomada "após consultas com o Azerbaijão e a Rússia".
"De acordo com as normas do Anexo 13 da Convenção de Chicago, o Estado que conduz a investigação assegura a leitura dos gravadores de voo e decide sobre a seleção de um país para ler e descodificar as caixas negras", refere o comunicado, acrescentando que o Cazaquistão é membro da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO na sigla em inglês).
A decisão indica que o Cazaquistão está de acordo com a exigência do Azerbaijão em levar a cabo uma investigação transparente sobre as circunstâncias em que o voo 8432 da Azerbaijan Airlines se despenhou quando tentava fazer uma aterragem de emergência perto de Aktau, na quarta-feira.
O Azerbaijão afirma que o avião foi atingido por um míssil russo terra-ar quando voava sobre Grozny, a capital regional da república russa da Chechénia, e que lhe foi ordenado que atravessasse o Mar Cáspio depois de lhe ter sido recusada uma aterragem de emergência em dois aeroportos russos próximos.
Aliyev "perturbado e surpreendido" com a versão russa dos factos
Horas antes de o Cazaquistão ter anunciado a sua decisão, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou que o avião foi atingido por fogo do solo sobre a Rússia e "ficou incontrolável devido a uma guerra eletrónica".
Aliyev acusou a Rússia de tentar "abafar" a questão durante vários dias, dizendo-se "perturbado e surpreendido" com as versões dos factos apresentadas por funcionários russos.
"Infelizmente, durante os primeiros três dias não ouvimos nada da Rússia, exceto versões delirantes", afirmou.
Aliyev disse que o Azerbaijão fez três exigências à Rússia em relação ao acidente.
"Primeiro, a Rússia tem de pedir desculpa ao Azerbaijão. Em segundo lugar, tem de itir a sua culpa. Em terceiro lugar, punir os culpados, responsabilizá-los criminalmente e pagar uma indemnização ao Estado azerbaijanês, aos ageiros feridos e aos membros da tripulação", afirmou.
Aliyev referiu que a primeira exigência "já foi cumprida", quando o presidente russo, Vladimir Putin, lhe pediu desculpa no sábado.
O presidente russo classificou o acidente como um "incidente trágico", mas não reconheceu a responsabilidade de Moscovo.
O Kremlin afirmou que os sistemas de defesa aérea estavam a disparar perto de Grozny, onde o avião tentou aterrar, para desviar um ataque de um drone ucraniano.
Aliyev disse que estava a decorrer uma investigação sobre o acidente e que "a versão final (dos acontecimentos) será conhecida depois de as caixas negras serem abertas".
O Azerbaijão sempre foi "a favor de um grupo de peritos internacionais" que investigasse o acidente e "recusou categoricamente" a sugestão da Rússia de que o Comité Interestatal da Aviação, que supervisiona a aviação civil na Comunidade de Estados Independentes, investigasse o acidente.
"Não é segredo que esta organização é constituída maioritariamente por funcionários russos e é dirigida por cidadãos russos. Os fatores de objetividade não podem ser totalmente assegurados aqui", disse Aliyev.