{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2018/04/06/divididos-entre-bruxelas-e-moscovo-os-bielorrussos-procuram-um-pais-novo" }, "headline": "Divididos entre Bruxelas e Moscovo, bielorrussos sonham com um novo pa\u00eds", "description": "A Euronews foi a Minsk conhecer o dia-a-dia entre um ado sovi\u00e9tico e o desejo de modernidade", "articleBody": "A equipa do programa Insiders embarcou numa viagem a um pa\u00eds considerado por v\u00e1rias ONG como a \u00faltima ditadura da Europa. Fomos \u00e0 Bielorr\u00fassia, ou, como muitos dos habitantes preferem chamar-lhe, Belarus. Um nome, que apesar de quase nunca utilizado em portugu\u00eas, recorda que o pa\u00eds \u00e9 mais do que a \u0022R\u00fassia branca\u0022 - palavras que comp\u00f5em a etimologia do nome 'Bielorr\u00fassia'. 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O opositor e a mulher, Maryna, fecharam-se em casa, dias antes, para evitar serem detidos dia 25 Dizem ser constantemente vigiados. A r\u00e1dio est\u00e1 sempre ligada. Mikalai Statkevich foi um dos manifestantes detidos durante os protestos contra a reelei\u00e7\u00e3o de Lukashenko em 2010.Foi libertado cinco anos depois, com outros prisioneiros pol\u00edticos. Uma decis\u00e3o do Estado bielorrusso que lhe valeu o fim das san\u00e7\u00f5es da parte da Uni\u00e3o Europeia. Mas Statkevich diz que a repress\u00e3o continua. \u0022\u00c9 um pa\u00eds sufocante. Aqui \u00e9 dif\u00edcil respirar. O medo est\u00e1 sempre presente. Se ningu\u00e9m fala de liberdade, se ningu\u00e9m luta pela liberdade, as pessoas esquecem-se de que ela existe,\u0022 explicou \u00e0 Euronews. \u0022A sociedade desagrega-se e o pa\u00eds torna-se numa presa f\u00e1cil para qualquer for\u00e7a exterior. Neste momento, Lukashenko \u00e9 controlado por Putin. Putin \u00e9 mais popular do que Lukashenko na Bielor\u00fasia, o que poderia facilitar uma eventual anexa\u00e7\u00e3o do pa\u00eds, algo que interessa bastante a Putin. Queremos um futuro normal para o nosso pa\u00eds e por isso vamos continuar a sair \u00e0 rua.\u0022 A entrevista foi interrompida de forma repentina, com o som de um telefone. Do outro lado da linha, chega a not\u00edcia: mais dois opositores foram detidos: \u0022Foram Nieklaiev, Siuvchik, e Viniarski n\u00e3o foram?,\u0022 pergunta Statkevich. Mikaila Statkevich foi preso quatro dias mais tarde, \u00e0 porta de casa. Na altura, tentava chegar \u00e0 marcha proibida do 25 de mar\u00e7o. Ainda assim, a repress\u00e3o foi, este ano, menos violenta do que em2017. Naquela altura, as pessoas juntaram-se \u00e0 oposi\u00e7\u00e3o durante semanas. O Governo tinha aprovado uma imposto aos desempregados, conhecido como o imposto parasita. Centenas de pessoas foram detidas. Cidad\u00e3os, militantes e jornalistas. A repress\u00e3o foi violenta, mas a lei foi abolida em janeiro deste ano. O \u0022imposto parasita\u0022 A Euronews marcou encontro com representantes do \u00fanico sindicato considerado independente no pa\u00eds, onde se presta apoio aos trabalhadores v\u00edtimas de abusos. Vladimir e Dimitrx s\u00e3o jovens e representam uma juventude que procura um futuro menos sufocante, mas, sobretudo, com mais trabalho. Tornaram-se membros do sindicato depois de terem sido v\u00edtimas do chamado \u0022imposto parasita\u0022. Em 2017, Vladimir participou numa manifesta\u00e7\u00e3o pela primeira vez na vida: \u0022Fui detido e posto numa cela sem luz, sem ventila\u00e7\u00e3o. N\u00e3o recebi explica\u00e7\u00f5es. N\u00e3o tive direito a advogado e n\u00e3o pude informar a minha fam\u00edlia. Recebi a multa m\u00e1xima de 350 euros, o que nos custou muito a pagar. Agora que sou catalogado como opositor, \u00e9 ainda mais dif\u00edcil encontrar trabalho\u0022 explicou-nos. Medidas que fizeram de outros jovens, como Dimitry, mais atentos \u00e0s atividades do Governo: \u0022Com o decreto n\u00famero tr\u00eas, tornei-me mais atento a estas novas pol\u00edticas. Comecei mesmo a estudar as leis para saber proteger-me.\u0022 Como muitos jovens na Bielorr\u00fassia, Vladimir e Dimitry emigraram para arranjar trabalho, sobretudo quando a crise imp\u00f4s sal\u00e1rios ainda mais baixos. \u0022H\u00e1 menos empregos,\u0022 conta Gennadi Fedynitch, do sindicato independente. \u0022Para piorar as coisas, o Governo bielorrusso dever\u00e1 apresentar um novo projeto de lei que obriga os desempregados a pagar na \u00edntegra as presta\u00e7\u00f5es sociais.\u0022 Uma situa\u00e7\u00e3o que deixa as fam\u00edlias com desempregados num ciclo negativo. Algo intencional, diz Fedynitch: \u0022As fam\u00edlias que ganham o suficiente t\u00eam outros problemas na cabe\u00e7a e come\u00e7am a pensar livremente. O Governo n\u00e3o quer gente que pense livremente. Quando se vive quase na pobreza, mesmo na mis\u00e9ria, ningu\u00e9m pensa nos problemas grandes. As pessoas pensam na sobreviv\u00eancia. \u00c9 a diferen\u00e7a entre uma democracia e um regime autorit\u00e1rio.\u0022 Dias depois da entrevista com a Euronews, Dimitry \u00e9 detido por participar na manifesta\u00e7\u00e3o do 25 de mar\u00e7o. Um KGB sempre presente A liberdade de express\u00e3o continua limitada na Bielorr\u00fassia, onde KGB n\u00e3o mudou de nome. E continua bem presente, articulando um aparelho de Estado que vigia tudo e todos. Mas o regime autorit\u00e1rio de Alexander Lukashenko parece dar sinais de alguma abertura. Desde que a R\u00fassia entrou na Crimeia, no que \u00e9 definido pla Uni\u00e3o Europeia e Na\u00e7\u00f5es Unidas como uma anexa\u00e7\u00e3o, Lukashenko esfor\u00e7a-se por agradar a Bruxelas. A Bielorr\u00fassia depende economicamente de Moscovo,as Bruxelas diz que n\u00e3o h\u00e1 mais vantagens sem que o pa\u00edsmelhore a situa\u00e7\u00e3o dos direitos humanos.Uma situa\u00e7\u00e3o que n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil de gerir. O ministro dos Neg\u00f3cios Estrangeiros bielorrusso, Vladimir Makei, explica \u00e0 Euronews que as coisas se gerem num equil\u00edbrio delicado entre Moscovo e Bruxelas. \u0022N\u00e3o podemos ar da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica para a Uni\u00e3o Europeia como Estado democr\u00e1tico. N\u00e3o significa que n\u00e3o possamos aprender a s\u00ea-lo\u0022, explica. \u0022Mas h\u00e1 que ter em conta todo um contexto ao analisar esta situa\u00e7\u00e3o. J\u00e1 pens\u00e1mos em fazer mudan\u00e7as constitucionais. A situa\u00e7\u00e3o mudou, tanto na Bielorr\u00fassia como nos pa\u00edses vizinhos. Falamos, por exemplo, da Ucr\u00e2nia. \u00c9 por isso que desejamos avan\u00e7ar, progredir, mas de forma cautelosa. \u00c9 preciso manter a estabilidade a n\u00edvel social.\u0022 Ksenia, a juventude pouco prudente Uma forma prudente de encarar o futuro que n\u00e3o parece ser a da juventude bielorrussa. Fal\u00e1mos com Ksenia, no metropolitano da capital. \u00c9 professora numa localidade a cerca de 100 quil\u00f3metros de Minsk. Ksenia ganha cerca de 200 euros por m\u00eas. Um sal\u00e1rio de sobreviv\u00eancia. Para al\u00e9m de comprar madeira para se aquecer, com o que lhe resta, Ksenia \u00e9 obrigada a comprar tr\u00eas jornais, pr\u00f3ximos do Governo e que descreve como pura propaganda. \u0022Falam de pol\u00edticas de ensino, sobre o Estado, sobre regras... sobre tudo. Nem sei. Mas nem os leio. S\u00e3o bons \u00e9 para atear o lume\u0022, conta, enquanto acende a lareira. Mas o pior e a press\u00e3o ideol\u00f3gica que Ksenia diz sofrer na escola: Toda a gente tem medo, sabe? Todos os professores t\u00eam medo do diretor da escola. E o diretor tem medo dos gestores. \u00c9 este ambiente... isto n\u00e3o \u00e9 liberdade. Talvez para algu\u00e9m mais velho, que viveu a vida toda na Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica, seja bom estar assim. \u0022Mas para os mais novos, \u00e9 mortal. N\u00e3o h\u00e1 progresso, n\u00e3o h\u00e1 independ\u00eancia nem futuro. Muita pol\u00edcia, pol\u00edcia por todos os lados.\u0022 Somilee, o rapper sem medo Fomos depois at\u00e9 casa de Somilee, um jovem rapper bielorrusso. Conseguiu comprar a moradia onde vive com o dinheiro que ganhou no estrangeiro. Montou mesmo um estudio de grava\u00e7\u00e3o. Recebeu, no ano ado, uma carta para pagar o dito \u0022imposto parasita\u0022. O Estado considerou que estava desempregado. Uma situa\u00e7\u00e3o bizarra que o levou a criar uma can\u00e7\u00e3o e um clip em pode ser visto a queimar o envelope enviado plas finan\u00e7as. \u0022Vivo aqui, no campo, porque me sinto mais livre do que na cidade. At\u00e9 agora, ainda n\u00e3o tive problemas com as autoridades. Digo o que me apetece. Mas pode ser que nao tenha problemas porque eles ainda n\u00e3o ouviram a minha musica,\u0022 conta. Se Ksenia e Somilee representam uma juventude cada vez mais cr\u00edtica com o Governo bielorrusso, a verdade \u00e9 que coexistem duas juventudes numa Bielorr\u00fassia dividida entre a heran\u00e7a sovi\u00e9tica e a sede de liberdade. Uma heran\u00e7a sovi\u00e9tica Depois da nossa conversa com a professora e o rapper, fomos at\u00e9 ao F\u00f3rum Regional Anual da Uni\u00e3o da Juventude Republicana Bielorrussa (BRSM), a principal organiza\u00e7\u00e3o do Estado.para a juventude. Fic\u00e1mos a conhecer Artsom, que venceu um dos pr\u00e9mios. Dirige a brigada de seguran\u00e7a da BSRM, organiza\u00e7\u00e3o para juventude que costuma ajudar a pol\u00edcia. Ao lado de Artsom, Ygor, de 21 anos. Dirige a unidade da juventude da assembleia de Minsk. Ambos integram um certo tipo de juventude, devota ao Estado, \u00e0 patria e ao Governo, que n\u00e3o duvida em expressar uma fidelidade a toda a prova. \u0022O valor que mais prezo \u00e9 o amor \u00e0 p\u00e1tria,\u0022 conta Artsom. \u0022O patriotismo. O sentimento patri\u00f3tico. Aprendemos isso na escola. Quando estudamos.\u0022 \u0022O pa\u00eds n\u00e3o perdeu o mais importante. O respeito pelo povo,\u0022 diz Ygor. \u0022H\u00e1 uma preocupa\u00e7\u00e3o particular com cada cidad\u00e3o. Com cada cidade. Com cada estrada. Por isso, quando se chega \u00e0 Bielorr\u00fassia, encontra-seum pa\u00eds limpo, onde todos os cidad\u00e3os s\u00e3o tidos em conta, todos os dias. Talvez seja por isso que se sente esta estabilidade por aqui. E \u00e9 por isso que tudo \u00e9 muito organizado.\u0022 \u00c0 procura de uma nova identidade Do lado dos que querem outra identidade nacional, a identidade de Belarus, encontra-se Pavel Belavus, que abriu uma loja com as cores da antiga bandeira e onde podem ser comprados artigos com as cores tradicionais. Pavel acredita noutra Bielorr\u00fassia e foi um dos organizadores das celebra\u00e7\u00f5es do Dia da Liberdade. \u0022Temos jogos em bielorrusso. Literatura bielorrussa para adultos e crian\u00e7as, inclu\u00edndo a da nossa Pr\u00e9mio Nobel, Svetlana Aleksievich. H\u00e1 recorda\u00e7\u00f5es, presentes, m\u00fasica. E tudo representa a Bielorr\u00fassia como deve ser.\u0022 A exist\u00eancia desta loja \u00e9 vista como um sinal de abertura da parte do presidente Lukashenko. Mas de uma abertura com limites. \u0022Ainda que existam mudan\u00e7as positivas e que n\u00e3o tenhamos sido presos por causa da loja, sei que, se sair daqui com uma destas bandeiras, a pol\u00edcia vem atr\u00e1s de mim e que vou ter problemas,\u0022 explica Pavel. \u0022O poder tem duas caras. Por um lado, \u00e9 permissivo. Por outro, \u00e9 repressor. Por um lado, protege, por outro, bate. E vivemos nesta situa\u00e7\u00e3o amb\u00edgua. Tentamos nem viver de um lado, nem do outro.\u0022 A Bielorr\u00fassia de relance 1918 - Proclama\u00e7\u00e3o de independ\u00eancia da Rep\u00fablica Nacional da Bielorr\u00fassia 1919 - A Rep\u00fablica Sovi\u00e9tica Socialista da Bielorr\u00fassia \u00e9 proclamada 1922 - A Bielorr\u00fassia torna-se num dos membros fundadores da URSS 1930 - O pa\u00eds \u00e9 alvo das purgas de Estaline. Milhares de pessoas enviadas para a Sib\u00e9ria 1941 - Invas\u00e3o dos nazis, expulsos quatro anos depois pelo Ex\u00e9rcito Vermelho 1960 - Intensifica\u00e7\u00e3o da pol\u00edtica de russifica\u00e7\u00e3o do pa\u00eds 1988 - Pol\u00edtica de abertura no quadro da Perestroika 1990 - O bielorrusso torna-se l\u00edngua oficial da Rep\u00fablica 1991 - Declara\u00e7\u00e3o de independ\u00eancia da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica 1994 - Alexander Lukashenko assume presid\u00eancia e refor\u00e7a la\u00e7os com R\u00fassia 2001 - Reelei\u00e7\u00e3o de Lukashenko, elei\u00e7\u00f5es criticadas internacionalmente 2002 - San\u00e7\u00f5es de 14 membros da UE contra presidente 2010 - Novas elei\u00e7\u00f5es presidenciais. 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Divididos entre Bruxelas e Moscovo, bielorrussos sonham com um novo país

Divididos entre Bruxelas e Moscovo, bielorrussos sonham com um novo país
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De Valérie Gauriat & Francisco Marques e Antonio Oliveira e Silva
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A Euronews foi a Minsk conhecer o dia-a-dia entre um ado soviético e o desejo de modernidade

A equipa do programa Insiders embarcou numa viagem a um país considerado por várias ONG como a última ditadura da Europa.

Fomos à Bielorrússia, ou, como muitos dos habitantes preferem chamar-lhe, Belarus. Um nome, que apesar de quase nunca utilizado em português, recorda que o país é mais do que a "Rússia branca" - palavras que compõem a etimologia do nome 'Bielorrússia'.

No ado dia 25 de março, milhares de pessoas reuniram-se em Minsk, a capital, para celebrar o centenário da emancipação do então Império Russo e da proclamação da República de 1918.

Uma declaração efémera, já que os bolcheviques se encarregaram de deixá-la sem efeito.

Depois de quase sete décadas sob domínio soviético, a Bielorrússia recupera a independência, no contexto da desintegração da URSS. A data usada como dia da independência pelo Estado bielorrusso corresponde à independência da URSS, de 1991.

Mas muitos são os que preferem o chamado Dia da Liberdade, que dizem corresponder à verdadeira essência da identidade bielorrussa.

O mesmo acontece com a antiga bandeira branca e vermelha, substituída em 1995 pelo presidente Aleksandr Lukashenko, numa medida que muitos contestam, embora a maioria o faça a voz baixa.

Reuters
A juventude é parte essencial nos crescentes protestos contra o Estado bielorrusso e contra o presidente Alexander Lukashenko, no poder desde 1994.Reuters

Este ano, o 25 de março atraiu milhares de pessoas ao centro de Minsk. Um dia de muito entusiamo na capital, diferente das celebrações noutros locais da cidade.

Mas as coisas não correram tão bem para as outras pessoas que tentaram manifestar-se noutras partes da cidade.

Uma hora antes do início das comemorações autorizadas pelo Governo, outra manifestação, não autorizada, acabou mais cedo. Dezenas de opositores e cidadãos decidiram reunir-se, noutra praça de Minsk, para desfilar depois até ao local das comemorações. Acabaram detidos, tanto em Minsk como noutros pontos do país.

Mikalai Statkevich, voz da oposição

Antigo candidato às presidenciais 2010, Mikalai Statkevich é a voz do descontentamento. A Euronews encontrou-se com ele dias antes da manifestação. O opositor e a mulher, Maryna, fecharam-se em casa, dias antes, para evitar serem detidos dia 25

Dizem ser constantemente vigiados. A rádio está sempre ligada.

Mikalai Statkevich foi um dos manifestantes detidos durante os protestos contra a reeleição de Lukashenko em 2010.Foi libertado cinco anos depois, com outros prisioneiros políticos.

Uma decisão do Estado bielorrusso que lhe valeu o fim das sanções da parte da União Europeia. Mas Statkevich diz que a repressão continua.

"É um país sufocante. Aqui é difícil respirar. O medo está sempre presente. Se ninguém fala de liberdade, se ninguém luta pela liberdade, as pessoas esquecem-se de que ela existe," explicou à Euronews.

"A sociedade desagrega-se e o país torna-se numa presa fácil para qualquer força exterior. Neste momento, Lukashenko é controlado por Putin. Putin é mais popular do que Lukashenko na Bielorúsia, o que poderia facilitar uma eventual anexação do país, algo que interessa bastante a Putin. Queremos um futuro normal para o nosso país e por isso vamos continuar a sair à rua."

A entrevista foi interrompida de forma repentina, com o som de um telefone.

Do outro lado da linha, chega a notícia: mais dois opositores foram detidos:

"Foram Nieklaiev, Siuvchik, e Viniarski não foram?," pergunta Statkevich.

Mikaila Statkevich foi preso quatro dias mais tarde, à porta de casa. Na altura, tentava chegar à marcha proibida do 25 de março.

Ainda assim, a repressão foi, este ano, menos violenta do que em2017. Naquela altura, as pessoas juntaram-se à oposição durante semanas. O Governo tinha aprovado uma imposto aos desempregados, conhecido como o imposto parasita.

Centenas de pessoas foram detidas. Cidadãos, militantes e jornalistas. A repressão foi violenta, mas a lei foi abolida em janeiro deste ano.

Reuters
Milhares de pessoas concentraram-se no centro de Minsk para assinalar os 100 anos do 25 de março, Dia da Liberdade, quando a Bielorrússia declarou a independência do Império Russo.Reuters

O "imposto parasita"

A Euronews marcou encontro com representantes do único sindicato considerado independente no país, onde se presta apoio aos trabalhadores vítimas de abusos.

Vladimir e Dimitrx são jovens e representam uma juventude que procura um futuro menos sufocante, mas, sobretudo, com mais trabalho. Tornaram-se membros do sindicato depois de terem sido vítimas do chamado "imposto parasita". Em 2017, Vladimir participou numa manifestação pela primeira vez na vida:

"Fui detido e posto numa cela sem luz, sem ventilação. Não recebi explicações. Não tive direito a advogado e não pude informar a minha família. Recebi a multa máxima de 350 euros, o que nos custou muito a pagar. Agora que sou catalogado como opositor, é ainda mais difícil encontrar trabalho" explicou-nos.

Medidas que fizeram de outros jovens, como Dimitry, mais atentos às atividades do Governo:

"Com o decreto número três, tornei-me mais atento a estas novas políticas. Comecei mesmo a estudar as leis para saber proteger-me."

Como muitos jovens na Bielorrússia, Vladimir e Dimitry emigraram para arranjar trabalho, sobretudo quando a crise impôs salários ainda mais baixos.

"Há menos empregos," conta Gennadi Fedynitch, do sindicato independente.

"Para piorar as coisas, o Governo bielorrusso deverá apresentar um novo projeto de lei que obriga os desempregados a pagar na íntegra as prestações sociais."

Uma situação que deixa as famílias com desempregados num ciclo negativo. Algo intencional, diz Fedynitch:

"As famílias que ganham o suficiente têm outros problemas na cabeça e começam a pensar livremente. O Governo não quer gente que pense livremente. Quando se vive quase na pobreza, mesmo na miséria, ninguém pensa nos problemas grandes. As pessoas pensam na sobrevivência. É a diferença entre uma democracia e um regime autoritário."

Dias depois da entrevista com a Euronews, Dimitry é detido por participar na manifestação do 25 de março.

Reuters
O chamado "imposto parasita" atingiu sobretudo as camadas mais jovens, que encontram dificuldades para conseguir trabalho. Os empregos que vão surgindo são muito mal pagos. Muitos encontram na migração uma solução para quebrar um ciclo de pobreza.Reuters

Um KGB sempre presente

A liberdade de expressão continua limitada na Bielorrússia, onde KGB não mudou de nome. E continua bem presente, articulando um aparelho de Estado que vigia tudo e todos.

Mas o regime autoritário de Alexander Lukashenko parece dar sinais de alguma abertura. Desde que a Rússia entrou na Crimeia, no que é definido pla União Europeia e Nações Unidas como uma anexação, Lukashenko esforça-se por agradar a Bruxelas.

A Bielorrússia depende economicamente de Moscovo,as Bruxelas diz que não há mais vantagens sem que o paísmelhore a situação dos direitos humanos.Uma situação que não é fácil de gerir.

O ministro dos Negócios Estrangeiros bielorrusso, Vladimir Makei, explica à Euronews que as coisas se gerem num equilíbrio delicado entre Moscovo e Bruxelas.

"Não podemos ar da União Soviética para a União Europeia como Estado democrático. Não significa que não possamos aprender a sê-lo", explica.

"Mas há que ter em conta todo um contexto ao analisar esta situação. Já pensámos em fazer mudanças constitucionais. A situação mudou, tanto na Bielorrússia como nos países vizinhos. Falamos, por exemplo, da Ucrânia. É por isso que desejamos avançar, progredir, mas de forma cautelosa. É preciso manter a estabilidade a nível social."

Wikipedia
Os serviços secretos bielorrussos continuam a chamar-se KGB, como nos tempos da União Soviética. Ao contrário do que aconteceu noutras antigas Repúblicas Socialistas Soviéticas, as identidades dos antigos agentes nunca chegaram a ser conhecidas. O KGB bielorrusso possui delegações em todas as províncias.Wikipedia

Ksenia, a juventude pouco prudente

Uma forma prudente de encarar o futuro que não parece ser a da juventude bielorrussa. Falámos com Ksenia, no metropolitano da capital. É professora numa localidade a cerca de 100 quilómetros de Minsk.

Ksenia ganha cerca de 200 euros por mês. Um salário de sobrevivência. Para além de comprar madeira para se aquecer, com o que lhe resta, Ksenia é obrigada a comprar três jornais, próximos do Governo e que descreve como pura propaganda.

"Falam de políticas de ensino, sobre o Estado, sobre regras... sobre tudo. Nem sei. Mas nem os leio. São bons é para atear o lume", conta, enquanto acende a lareira.

Mas o pior e a pressão ideológica que Ksenia diz sofrer na escola:

Toda a gente tem medo, sabe? Todos os professores têm medo do diretor da escola. E o diretor tem medo dos gestores. É este ambiente... isto não é liberdade. Talvez para alguém mais velho, que viveu a vida toda na União Soviética, seja bom estar assim.

"Mas para os mais novos, é mortal. Não há progresso, não há independência nem futuro. Muita polícia, polícia por todos os lados."

Somilee, o rapper sem medo

Fomos depois até casa de Somilee, um jovem rapper bielorrusso. Conseguiu comprar a moradia onde vive com o dinheiro que ganhou no estrangeiro. Montou mesmo um estudio de gravação.

Recebeu, no ano ado, uma carta para pagar o dito "imposto parasita". O Estado considerou que estava desempregado. Uma situação bizarra que o levou a criar uma canção e um clip em pode ser visto a queimar o envelope enviado plas finanças.

"Vivo aqui, no campo, porque me sinto mais livre do que na cidade. Até agora, ainda não tive problemas com as autoridades. Digo o que me apetece. Mas pode ser que nao tenha problemas porque eles ainda não ouviram a minha musica," conta.

Se Ksenia e Somilee representam uma juventude cada vez mais crítica com o Governo bielorrusso, a verdade é que coexistem duas juventudes numa Bielorrússia dividida entre a herança soviética e a sede de liberdade.

Uma herança soviética

Depois da nossa conversa com a professora e o rapper, fomos até ao Fórum Regional Anual da União da Juventude Republicana Bielorrussa (BRSM), a principal organização do Estado.para a juventude.

Ficámos a conhecer Artsom, que venceu um dos prémios. Dirige a brigada de segurança da BSRM, organização para juventude que costuma ajudar a polícia.

Ao lado de Artsom, Ygor, de 21 anos. Dirige a unidade da juventude da assembleia de Minsk. Ambos integram um certo tipo de juventude, devota ao Estado, à patria e ao Governo, que não duvida em expressar uma fidelidade a toda a prova.

"O valor que mais prezo é o amor à pátria," conta Artsom. "O patriotismo. O sentimento patriótico. Aprendemos isso na escola. Quando estudamos."

"O país não perdeu o mais importante. O respeito pelo povo," diz Ygor.

"Há uma preocupação particular com cada cidadão. Com cada cidade. Com cada estrada. Por isso, quando se chega à Bielorrússia, encontra-seum país limpo, onde todos os cidadãos são tidos em conta, todos os dias. Talvez seja por isso que se sente esta estabilidade por aqui. E é por isso que tudo é muito organizado."

Belarus in Focus
A bandeira da Bielorrússia independente foi abolida em 1995 pelo presidente Alexandr Lukashenko, embora a população continue a usá-la, especialmente em dias como o 25 de março.Belarus in Focus

À procura de uma nova identidade

Do lado dos que querem outra identidade nacional, a identidade de Belarus, encontra-se Pavel Belavus, que abriu uma loja com as cores da antiga bandeira e onde podem ser comprados artigos com as cores tradicionais. Pavel acredita noutra Bielorrússia e foi um dos organizadores das celebrações do Dia da Liberdade.

"Temos jogos em bielorrusso. Literatura bielorrussa para adultos e crianças, incluíndo a da nossa Prémio Nobel, Svetlana Aleksievich. Há recordações, presentes, música. E tudo representa a Bielorrússia como deve ser."

A existência desta loja é vista como um sinal de abertura da parte do presidente Lukashenko. Mas de uma abertura com limites.

"Ainda que existam mudanças positivas e que não tenhamos sido presos por causa da loja, sei que, se sair daqui com uma destas bandeiras, a polícia vem atrás de mim e que vou ter problemas," explica Pavel.

"O poder tem duas caras. Por um lado, é permissivo. Por outro, é repressor. Por um lado, protege, por outro, bate. E vivemos nesta situação ambígua. Tentamos nem viver de um lado, nem do outro."

A Bielorrússia de relance

1918 - Proclamação de independência da República Nacional da Bielorrússia

1919 - A República Soviética Socialista da Bielorrússia é proclamada

1922 - A Bielorrússia torna-se num dos membros fundadores da URSS

1930 - O país é alvo das purgas de Estaline. Milhares de pessoas enviadas para a Sibéria

1941 - Invasão dos nazis, expulsos quatro anos depois pelo Exército Vermelho

1960 - Intensificação da política de russificação do país

1988 - Política de abertura no quadro da Perestroika

1990- O bielorrusso torna-se língua oficial da República

1991 - Declaração de independência da União Soviética

1994- Alexander Lukashenko assume presidência e reforça laços com Rússia

2001- Reeleição de Lukashenko, eleições criticadas internacionalmente

2002 - Sanções de 14 membros da UE contra presidente

2010 - Novas eleições presidenciais. Lukashenko reeleito.

2011 - Morrem 15 pessoas em explosão do metro de Minsk

2017- Exercícios militares conjuntos com a Rússia

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