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No entanto, a aprova\u00e7\u00e3o no Conselho ser\u00e1 feita por maioria qualificada, o que significa que os pa\u00edses n\u00e3o poder\u00e3o vetar. O ciclo tem de ser conclu\u00eddo antes que Bruxelas entre num ime total antes das pr\u00f3ximas elei\u00e7\u00f5es para o Parlamento Europeu, previstas para o in\u00edcio de junho. Cr\u00edticas dos ativistas que lidam com migrantes e refugiados As organiza\u00e7\u00f5es humanit\u00e1rias intensificaram, nos \u00faltimos meses, uma campanha p\u00fablica para alertar para o risco de o Pacto normalizar a deten\u00e7\u00e3o em larga escala e enviar os migrantes de volta para pa\u00edses onde enfrentam viol\u00eancia e persegui\u00e7\u00e3o. As preocupa\u00e7\u00f5es foram repetidas na manh\u00e3 de quarta-feira, \u00e0 medida que os pormenores do acordo foram surgindo. \u0022O Pacto n\u00e3o resolve os problemas de asilo da UE; na realidade, limita o o ao asilo e os direitos dos que procuram prote\u00e7\u00e3o\u0022, afirmou a Caritas Europa num comunicado, alertando para o risco de \u0022deten\u00e7\u00f5es generalizadas e padr\u00f5es de acolhimento deficientes\u0022 e de \u0022procedimentos de asilo apressados com salvaguardas e recursos s\u0022. J\u00e1 a Amnistia Internacional previu um \u0022aumento do sofrimento em todas as etapas\u0022 da viagem dos requerentes de asilo e denunciou o procedimento de fronteira de 12 semanas como \u0022deficiente\u0022. As disposi\u00e7\u00f5es do pacto em mat\u00e9ria de gest\u00e3o de crises podem \u0022violar o direito internacional\u0022 e criar um \u0022precedente perigoso para o direito de asilo a n\u00edvel mundial\u0022, afirmou a organiza\u00e7\u00e3o. Em rea\u00e7\u00e3o \u00e0s cr\u00edticas, Ylva Johansson, Comiss\u00e1ria Europeia para os Assuntos Internos, que participou na maratona de negocia\u00e7\u00f5es, afirmou que o acordo inclui um \u0022limite\u0022 para o n\u00famero de requerentes de asilo que podem ar pelo procedimento acelerado para evitar \u0022qualquer sobrelota\u00e7\u00e3o\u0022.\u00a0 Se o limite for atingido, os imigrantes ser\u00e3o reencaminhados para o procedimento de asilo tradicional, que permite a livre circula\u00e7\u00e3o no territ\u00f3rio nacional. O aconselhamento jur\u00eddico ser\u00e1 fornecido gratuitamente durante \u0022todo o processo\u0022, disse Johansson. \u0022A migra\u00e7\u00e3o \u00e9 algo normal. A migra\u00e7\u00e3o sempre existiu e continuar\u00e1 a existir. A nossa tarefa (\u00e9) gerir a migra\u00e7\u00e3o de uma forma ordenada - em conjunto\u0022, afirmou a comiss\u00e1ria. 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Cinco altera\u00e7\u00f5es O objetivo \u00e9 ter uma abordagem global que pretende reunir todos os aspetos da gest\u00e3o da migra\u00e7\u00e3o, desde o momento em que os migrantes chegam ao territ\u00f3rio do bloco at\u00e9 \u00e0 resolu\u00e7\u00e3o dos seus pedidos de prote\u00e7\u00e3o internacional. Em termos gerais, pretende-se cobrir a \u0022dimens\u00e3o interna\u0022 da migra\u00e7\u00e3o, enquanto a \u0022dimens\u00e3o externa\u0022 \u00e9 abordada atrav\u00e9s de acordos espec\u00edficos com pa\u00edses vizinhos, como a Turquia, a Tun\u00edsia e o Egipto. As cinco leis inclu\u00eddas no novo pacto s\u00e3o as seguintes O regulamento relativo ao rastreio , que prev\u00ea um procedimento de pr\u00e9-entrada para examinar rapidamente o perfil de um requerente de asilo e recolher informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas como a nacionalidade, a idade, as impress\u00f5es digitais e a imagem facial. Ser\u00e3o igualmente efectuados controlos sanit\u00e1rios e de seguran\u00e7a. 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As negocia\u00e7\u00f5es entre o Conselho e o Parlamento decorreram durante meses, primeiro em conversa\u00e7\u00f5es separadas sobre cada dossi\u00ea legislativo e, mais recentemente, no chamado formato \u0022jumbo\u0022, em que os cinco projetos de lei foram analisados de uma s\u00f3 vez sob o lema \u0022nada est\u00e1 acordado at\u00e9 que tudo esteja acordado\u0022. \u00a0Juan Fernando L\u00f3pez Aguilar, eurodeputado espanhol em terceiro mandato e relator do regulamento relativo \u00e0 crise, descreveu o processo como \u0022o mais dif\u00edcil que j\u00e1 vivi\u0022. Os Estados-membros estavam empenhados em preservar o compromisso dif\u00edcil que tinham alcan\u00e7ado entre si ap\u00f3s anos de debates infrut\u00edferos para reformar a pol\u00edtica de migra\u00e7\u00e3o do bloco. 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Ativistas alertam para riscos da nova versão do Pacto de Migração da UE

Os Estados-Membros e o Parlamento Europeu chegaram a um acordo preliminar sobre o Novo Pacto em matéria de Migração e Asilo.
Os Estados-Membros e o Parlamento Europeu chegaram a um acordo preliminar sobre o Novo Pacto em matéria de Migração e Asilo. Direitos de autor Santi Palacios/Copyright 2021 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Santi Palacios/Copyright 2021 The AP. All rights reserved.
De Jorge Liboreiro & Euronews
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Os Estados-membros da UE e o Parlamento Europeu chegaram, na terça-feira, a um importante acordo para reformar a política de migração do bloco, num processo que se arrastou por três anos, mas a nova versão não agrada a ativistas dos direitos humanos.

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O acordo sobre o Pacto de Migração e Asilo da UE, que ainda tem de ser objeto de ratificação formal, foi selado após uma maratona de conversações que teve início na tarde de segunda-feira e terminou na manhã de quarta-feira, centrando-se num vasto e complexo leque de questões tais como os períodos de detenção, o perfil racial, os menores não acompanhados, as operações de busca e salvamento e a vigilância das fronteiras.

O Conselho Europeu, liderado pela presidência espanhola, defendeu uma posição rígida para dar aos Estados-membros a maior margem de manobra possível para lidar com a migração, nomeadamente através do alargamento de um procedimento de asilo acelerado ao maior número possível de requerentes, enquanto que o Parlamento Europeu insistiu em disposições mais rigorosas para respeitar os direitos fundamentais.

Com esta versão consensual, o bloco vai poder avançar com cinco atos legislativos interligados que redefinem as regras para receber, gerir e relocalizar coletivamente a chegada irregular de migrantes.

A poposta inicial partiu da Comissão Europeia, em setembro de 2020, numa tentativa de virar a página de décadas de gestão ad-hoc de crises, em que os governos tomaram medidas unilaterais e descoordenadas para lidar com um aumento acentuado dos requerentes de asilo.

Na sua essência, o Pacto destina-se a estabelecer normas previsíveis e claras que vinculem todos os Estados-membros, independentemente da sua localização geográfica e peso económico. O objetivo final é encontrar um equilíbrio entre a responsabilidade dos países da linha da frente, como a Itália, a Grécia e a Espanha, que recebem a maior parte dos requerentes de asilo, e o princípio da solidariedade que os outros países devem defender.

"É um momento histórico", disse Ylva Johansson, a comissária europeia para os Assuntos Internos, celebrando a notícia.

O acordo será agora traduzido em textos legais alterados, que terão de ser aprovados primeiro pelo Parlamento e, mais tarde, pelo Conselho. Dada a extrema sensibilidade da questão em causa, não são de excluir pedidos de última hora por parte dos governos. No entanto, a aprovação no Conselho será feita por maioria qualificada, o que significa que os países não poderão vetar.

O ciclo tem de ser concluído antes que Bruxelas entre num ime total antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu, previstas para o início de junho.

O Pacto não resolve os problemas de asilo da UE; na realidade, limita o o ao asilo e os direitos dos que procuram proteção.
Caritas Europa

Críticas dos ativistas que lidam com migrantes e refugiados

As organizações humanitárias intensificaram, nos últimos meses, uma campanha pública para alertar para o risco de o Pacto normalizar a detenção em larga escala e enviar os migrantes de volta para países onde enfrentam violência e perseguição. As preocupações foram repetidas na manhã de quarta-feira, à medida que os pormenores do acordo foram surgindo.

"O Pacto não resolve os problemas de asilo da UE; na realidade, limita o o ao asilo e os direitos dos que procuram proteção", afirmou a Caritas Europa num comunicado, alertando para o risco de "detenções generalizadas e padrões de acolhimento deficientes" e de "procedimentos de asilo apressados com salvaguardas e recursos s".

Já a Amnistia Internacional previu um "aumento do sofrimento em todas as etapas" da viagem dos requerentes de asilo e denunciou o procedimento de fronteira de 12 semanas como "deficiente". As disposições do pacto em matéria de gestão de crises podem "violar o direito internacional" e criar um "precedente perigoso para o direito de asilo a nível mundial", afirmou a organização.

Em reação às críticas, Ylva Johansson, Comissária Europeia para os Assuntos Internos, que participou na maratona de negociações, afirmou que o acordo inclui um "limite" para o número de requerentes de asilo que podem ar pelo procedimento acelerado para evitar "qualquer sobrelotação". 

A migração é algo normal. A migração sempre existiu e continuará a existir. A nossa tarefa (é) gerir a migração de uma forma ordenada - em conjunto.
Ylva Johansson
Comissária europeia para Assuntos Internos

Se o limite for atingido, os imigrantes serão reencaminhados para o procedimento de asilo tradicional, que permite a livre circulação no território nacional. O aconselhamento jurídico será fornecido gratuitamente durante "todo o processo", disse Johansson.

"A migração é algo normal. A migração sempre existiu e continuará a existir. A nossa tarefa (é) gerir a migração de uma forma ordenada - em conjunto", afirmou a comissária.

A aplicação do novo pacto, que demorará meses após a aprovação dos textos finais, será inevitavelmente dificultada pela questão das deportações. Durante anos, a UE tem-se esforçado por convencer os países de origem a aceitar os requerentes de asilo cujos pedidos não são aceites, deixando muitos deles presos num limbo jurídico. 

Bruxelas está agora a tentar uma combinação de instrumentos para corrigir a situação, como a nomeação de um Coordenador para o Regresso para coordenar as políticas nacionais e a ameaça de restrições de vistos para os países que se recusem a cooperar.

"É claro que é preciso fazer mais, mas estamos a fazer progressos nesta área", disse Johansson.

Cinco alterações

O objetivo é ter uma abordagem global que pretende reunir todos os aspetos da gestão da migração, desde o momento em que os migrantes chegam ao território do bloco até à resolução dos seus pedidos de proteção internacional.

Em termos gerais, pretende-se cobrir a "dimensão interna" da migração, enquanto a "dimensão externa" é abordada através de acordos específicos com países vizinhos, como a Turquia, a Tunísia e o Egipto.

As cinco leis incluídas no novo pacto são as seguintes

  • O regulamento relativo ao rastreio, que prevê um procedimento de pré-entrada para examinar rapidamente o perfil de um requerente de asilo e recolher informações básicas como a nacionalidade, a idade, as impressões digitais e a imagem facial. Serão igualmente efectuados controlos sanitários e de segurança.
  • O Regulamento Eurodac alterado, que actualiza o Eurodac, a base de dados de grande escala que armazenará os dados biométricos recolhidos durante o processo de triagem. A base de dados ará da contagem dos pedidos para a contagem dos requerentes, a fim de evitar pedidos múltiplos com o mesmo nome.
  • O Regulamento relativo aos procedimentos de asilo (RPA) alterado, que estabelece duas etapas possíveis para os requerentes de asilo: um procedimento acelerado nas fronteiras, que deve durar, no máximo, 12 semanas, e o procedimento de asilo tradicional, que é mais longo e pode demorar vários meses até chegar a uma conclusão definitiva.
  • O Regulamento relativo à gestão do asilo e da migração (AMMR), que estabelece um sistema de "solidariedade obrigatória" que será acionado quando um ou mais Estados-membros se encontrarem sob "pressão migratória". O sistema oferecerá aos países três opções de ajuda: recolocar um determinado número de requerentes de asilo (até 30 mi pessoas, por ano), pagar uma contribuição por cada requerente (20 mil euros por pessoa) que recusem recolocar no seu país e que servirá para financiar apoio operacional.
  • O Regulamento de Crise, que prevê regras excecionais que serão aplicadas apenas quando o sistema de asilo do bloco for ameaçado por uma chegada súbita e maciça de refugiados, como foi o caso durante a crise migratória de 2015-2016, ou por uma situação de força maior, como a pandemia da Covid-19. Nestas circunstâncias, as autoridades nacionais serão autorizadas a aplicar medidas mais rigorosas, incluindo períodos de detenção mais longos.

As negociações entre o Conselho e o Parlamento decorreram durante meses, primeiro em conversações separadas sobre cada dossiê legislativo e, mais recentemente, no chamado formato "jumbo", em que os cinco projetos de lei foram analisados de uma só vez sob o lema "nada está acordado até que tudo esteja acordado".

 Juan Fernando López Aguilar, eurodeputado espanhol em terceiro mandato e relator do regulamento relativo à crise, descreveu o processo como "o mais difícil que já vivi".

Os Estados-membros estavam empenhados em preservar o compromisso difícil que tinham alcançado entre si após anos de debates infrutíferos para reformar a política de migração do bloco. O compromisso era particularmente delicado no que se refere ao sistema de "solidariedade obrigatória" previsto na AMMR: os países tinham acordado uma quota anual de 30 mil recolocações e uma contribuição de 20 mil euros por cada requerente de asilo que rejeitassem.

Mas os legisladores ressentiram-se da posição inflexível do Conselho e apelaram à flexibilidade para chegar a um meio-termo. Algumas das últimas divergências que subsistem são o âmbito do procedimento de fronteira de 12 semanas, a detenção de requerentes em situação irregular, um mecanismo de controlo dos direitos fundamentais e o conceito de países terceiros seguros.

A Polónia e os países bálticos insistiram em regras especiais para lidar com a instrumentalização dos migrantes, um fenómeno que sofreram em primeira mão, em 2021, quando a Bielorrússia orquestrou um afluxo de requerentes de asilo em retaliação às sanções internacionais.

O acordo de quarta-feira surge poucos dias depois de a Frontex, a agência de fronteiras e guarda costeira do bloco, ter dito que as travessias irregulares de fronteiras ultraaram os 355 mil incidentes nos primeiros 11 meses do ano, o número mais elevado para esse período desde 2016.

O aumento contínuo dos incidentes de travessia de fronteiras injetou ímpeto nas negociações e tirou o Novo Pacto do limbo político em que se encontrava desde 2020.

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