Depois da reeleição do presidente, apoiada por 74% dos votos, os croatas mostram-se sobretudo interessados na relação deste com o primeiro-ministro, Andrej Plenković.
A reeleição esmagadorade Zoran Milanović para a presidência da Croácia não foi exatamente uma surpresa para os croatas. O resultado é visto como um voto contra o Governo em exercício, que apoiava o candidato derrotado, Dragan Primorac.
Milanović venceu com 74% dos votos, quase quatro vezes o valor obtido pelo adversário que contava com o apoio do partido conservador no poder, a União Democrática Croata (HDZ).
Jadranka Kuhar, que vive em Zagreb, interpreta os resultados "como um voto contra o partido no poder, HDZ, em vez de uma vitória de Milanović". “Este é um bom resultado, eu gosto. Acho que ele (Milanović) é louco o suficiente para se opor ao primeiro-ministro e realmente conseguir algo", acrescenta.
Mesmo assim, há quem espere outra atitude durante este segundo mandato. É o caso de Mato Sicek, que também vive na capital croata.
“Ouvi a declaração dele esta manhã, disse que tentaria a reconciliação, enterrar o machado (com o Governo) e continuar a fazer tudo de acordo com a lei. Se isso acontecesse, seria ótimo”, diz Sicek, que mostra pouca confiança em Milanović.
“Talvez ele mude de opinião da noite para o dia e comece a dizer algo diferente amanhã, não sei. Você não pode confiar nele.”
No domingo, depois de conhecidos os resultados, Milanović disse que a esta vitória enviou uma mensagem "sobre a situação do país para aqueles que precisam de a ouvir", num discurso carregado de mensagens dirigidas aos rivais políticos.
"Peço-lhes (ao governo) que ouçam", disse Milanović . "Era isso que os cidadãos queriam dizer. Isto não é apenas apoio para mim".
"Trump da Croácia"
Zoran Milanović é por vezes comparado a Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos. Uma comparação por ter um estilo de comunicação agressivo e também devido às posições em relação à política interna e externa.
É feroz opositor do Governo do primeiro-ministro conservador da Croácia, Andrej Plenković, que acusa de corrupção sistémica. Além disso, é um forte crítico da União Europeia e da Nato.
O primeiro-ministro, por seu lado, apelidou o presidente de "pró-Rússia" e uma ameaça à posição da Croácia no palco internacional. Algo que o presidente nega.
Mesmo assim, o analista político Ivan Rimac não acredita que Milanović venha a interferir na política externa.
"Até agora, tem estado amplamente fora de o com outros políticos da UE e internacionais. Mas poderia ser um pouco mais agressivo ao pressionar sobre questões que estão dentro da sua autoridade", diz.
Rimac também considera que os croatas esperam que o presidente faça um equilíbrio de poderes. É que o país é governado pelo mesmo partido, a União Democrática Croata, desde que, em 1991, conseguiu a independência da então Jugoslávia.