A 23 dias das eleições legislativas antecipadas, o parlamento português assinalou os 50 anos das primeiras eleições que colocaram em São Bento 250 deputados eleitos livremente e em sufrágio universal. Houve ainda espaço para uma homenagem ao Papa Francisco.
A Assembleia da República de Portugal assinalou hoje os 51 anos do 25 de Abril de 1974, a revolução que pôs fim a 48 anos de ditadura, e os 50 anos das primeiras eleições livres. Mas a sessão ficou também marcada pela morte do Papa Francisco.
O presidente da República associou a vida do Papa à Revolução dos Cravos. Marcelo Rebelo de Sousa, que fez o último discurso numa sessão do 25 de Abril como presidente, disse que a mensagem de Francisco tem tudo a ver com os valores de Abril.
"Tudo, tudo! Dignidade, humanidade, paz, justiça, liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade, abertura, inclusão, serviço dos outros, preferência pelos ignorados, omitidos e silenciados", disse Marcelo.
A sessão ficou marcada pela polémica com o luto da morte Papa Francisco, que decorre até sexta-feira. Devido ao luto, o executivo decidiu adiar alguns eventos, como a presença do primeiro-ministro na abertura da residência oficial.
Esta decisão provocou a crítica generalizada da oposição à esquerda, durante a sessão solene desta sexta-feira, que rejeitou haver incompatibilidade ente o luto e estas celebrações.
Foi o caso de Pedro Nuno Santos. O dirigente do Partido Socialista (PS) disse que “o povo sai à rua enquanto o Governo fica à janela”. Acusou ainda o Governo de estar “desligado do sentimento popular”.
Aniversário das eleições livres
Pedro Nuno Santos também não esqueceu a Spinumviva, o caso da empresa familiar do primeiro-ministro que levou à queda do executivo.
"A democracia é hoje mais exigente do que alguma vez foi. Sujeita os políticos a um maior escrutínio e impõe-lhes um maior nível de transparência e de integridade ética do que em qualquer outro momento da história”, disse o líder do PS.
A sessão realizou-se com um parlamento dissolvido, com as eleições legislativas antecipadas marcadas para menos de um mês. Marcelo Rebelo de Sousa notou que é a primeira vez que isto acontece nas celebrações do 25 de Abril.
O partido do poder, o Partido Social Democrata (PSD), foi representado por Teresa Morais. A vice-presidente da Assembleia lembrou a experiência pessoal da revolução, em particular o fim da guerra colonial. Também lembrou os direitos dados às mulheres pela Assembleia Constituinte.
Este ano, esta data marca também os 50 anos das eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975. Estas foram as primeiras eleições livres e universais em Portugal. Ficaram na história também como as mais participadas, com uma afluência de 91%.
As eleições de 75 também foram lembradas pelo presidente da Assembleia da República. Aguiar Branco aproveitou também para fazer um apelo a mais responsabilização dos políticos.
Depois de encerrada a sessão, e como é tradição, os partidos de esquerda cantaram “Grândola Vila Morena”, a canção de Zeca Afonso que foi uma das senhas da revolução. Na altura, os deputados do Chega, de extrema-direita, abandonaram o hemiciclo.
Durante a tarde, realiza-se o desfile popular na Avenida 25 de Abril, em Lisboa.