A Repórteres sem Fronteiras (RSF) publicou na sexta-feira o seu relatório anual sobre a liberdade de imprensa no mundo. A Europa continua a ser a região mais segura para os jornalistas, mas a situação está a deteriorar-se. Na UE, a Grécia está em último lugar.
A imprensa europeia está a sufocar. Embora o continente continue a ser a região líder no índice mundial de liberdade de imprensa publicado na sexta-feira pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a situação está a deteriorar-se.
As dificuldades económicas ameaçam as redações, sobretudo as independentes. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação social têm de enfrentar o fim da ajuda americana e o reforço da propaganda russa. "Hoje, Donald Trump é uma ameaça tão grande para os meios de comunicação social na Europa como Vladimir Putin", afirma Pavol Szalai, chefe do gabinete UE (União Europeia)-Balcãs da RSF.
A Noruega, a Estónia e os Países Baixos estão no topo do ranking. Em contrapartida, a Grécia, a Sérvia e o Kosovo são os países mais mal classificados do continente, respetivamente nos lugares 89, 96 e 99 entre 180 países.
Dentro da União Europeia, Atenas está em último lugar. "Na Grécia, a liberdade de imprensa é realmente sufocada pela impunidade dos crimes cometidos contra jornalistas. Estou a falar do assassinato do jornalista Giorgos Karaïvaz em 2021. Até agora, houve um julgamento e os acusados foram absolvidos", explica Pavol Szalai.
"Também se registou a maior vigilância de jornalistas na UE. Na Grécia, mais de 10 profissionais da comunicação social foram alvo do spyware Predator, que deu o nome ao agora famoso caso Predatorgate", acrescenta.
A Hungria, criticada pelos seus ataques ao Estado de Direito, está em 68.º lugar. Pavol Szalai refere que "os jornalistas não são mortos nem presos", mas sublinha que há um controlo da informação por parte do governo.
"80% dos média são controlados pelos amigos de Orbán. E, neste aspeto, Orbán tem vindo a apertar constantemente o seu controlo sobre os meios de comunicação social".
Europa na liderança, mas...
Embora a Europa continue a ser o local mais seguro para os meios de comunicação social, a RSF sublinha que a UE deve manter-se vigilante. "A liberdade de imprensa continuou a deteriorar-se na Europa", afirma Pavol Szalai.
No entanto, a UE dispõe de meios legislativos para proteger os jornalistas, após "a adoção, no ano ado, do Ato Europeu para a Liberdade dos Meios de Comunicação Socialpela União Europeia, que constitui um ato legislativo histórico".
O texto tem como objetivo reforçar a independência das redações, proteger as fontes e garantir uma maior transparência na propriedade dos meios de comunicação social. O texto visa também proteger os jornalistas contra todas as formas de espionagem. Mas os regulamentos não são aplicados da mesma forma por todos os Estados-membros, lamenta Pavol Szalai.
A RSF apela aos governos europeus para que adotem medidas de apoio aos meios de comunicação social. A ONG aponta a necessidade de modelos de financiamento inovadores ou de benefícios fiscais.
A organização também quer que as plataformas digitais defendam e promovam os meios de comunicação social credíveis. "Infelizmente, as plataformas atuais tendem a promover rumores e propaganda em vez de informação fiável", afirma Pavol Szalai. O eurodeputado salienta a necessidade de os Estados-membros financiarem os meios de comunicação social após o vazio criado pela retirada financeira e política dos Estados Unidos da América.