Péter Magyar publicou uma gravação de áudio do ministro da Defesa, Kristóf Szalay-Bobrovniczky.
Na quarta-feira, o líder da oposição da Hungria Péter Magyar anunciou no Facebook que, na quinta-feira de manhã, iam ser divulgadas provas que iam tornar claro que "Viktor Orbán e a sua partido têm mentido nos últimos anos. Mentiram de manhã, à tarde e à noite. Mentiram em todas as frequências".
Na manhã desta-quinta, o partido Tisza (Respeito e Liberdade) publicou uma gravação de áudio no Facebook:
"O Governo de Viktor Orbán é um Governo de mentiras e de guerra. Acabou. Têm de sair. O Governo de Orbán mente aos húngaros sobre a paz, mas eles querem levar o nosso maravilhoso país para a guerra. Há anos que o Governo de Orbán fala em proteger o povo húngaro, mas são eles que estão dispostos a sacrificar a segurança dos próprios compatriotas por dinheiro e poder. Isto não é um erro político. Trata-se de um crime. É um crime para o qual não há perdão e para o qual não vai haver perdão".
A gravação tem pouco mais de um minuto e a publicação diz que foi feita em abril de 2023 (um ano e dois meses após o início da guerra na Ucrânia). Mostra o ministro da Defesa de Orbán, Kristóf Szalay-Bobrovniczky, a falar.
"O quinto Governo de Orbán decidiu construir uma força verdadeiramente eficaz e pronta para o combate, para romper com as nossas atividades de paz anteriores", diz Kristóf Szalay-Bobrovniczky, acrescentando que "como resultado de um processo, estamos a romper com a mentalidade da paz". Ainda segundo o ministro da Defesa, esta rutura está também na origem do processo "conhecido do público como rejuvenescimento", porque era simplesmente "a forma mais fácil" de mudar de direção.
"Estamos a romper com a mentalidade de paz e a ar à fase zero do caminho para a guerra", afirmou.
A mudança foi pedida pelo ministro da Defesa ao tenente-general Gábor Böröndi, que foi nomeado chefe das Forças Armadas em maio de 2023, depois de a então presidente da República, Katalin Novák, ter demitido inesperadamente Romulus Ruszin-Szendi, que trabalhava como especialista para o partido Tisza, liderado por Péter Magyar, desde fevereiro.
"A pessoa certa tem de estar no lugar certo", disse Kristóf Szalay-Bobrovniczky, ao explicar a decisão à Subcomissão da Defesa e de Segurança do Parlamento Europeu. O ministro da Defesa disse, na altura, que Romulus Ruszin-Szendi tinha desempenhado principalmente funções de combate e que a prolongada guerra russo-ucraniana exigia conhecimentos ao nível operacional. Por esta razão, propôs Gábor Böröndi para novo chefe do Estado-Maior, sob cuja liderança acreditava que as Forças de Defesa húngaras se poderiam adaptar à prolongada situação de guerra e construir um exército mais preparado para o combate, bem equipado e com uma nova cultura.
Ministro da Defesa reagiu à gravação
"Estou a construir um exército pronto e capaz de defender a Hungria com armas! Porque a paz requer força", reagiu o ministro da Defesa, Kristóf Szalay-Bobrovniczky, na sua página do Facebook ao vídeo publicado por Péter Magyar.
A frase "A paz requer força" pode (também) ser atribuída a Viktor Orbán, que disse a mesma coisa em Zalaegerszeg, na cerimónia de inauguração da fábrica Rheinmetall Hungria em agosto de 2023.
Orbán disse na altura que o Governo não tinha desistido do plano de construir uma indústria de defesa independente. Acrescentou que podia parecer que estavam a correr atrás dos acontecimentos ao instalar esta fábrica em tempo de guerra, mas não era o caso, porque a decisão sobre a fábrica foi tomada em 2020, dois anos antes da guerra russo-ucraniana.
"Tudo o que se vê aqui aconteceu antes de os outros perceberem que era necessário", disse o primeiro-ministro húngaro na altura.
Gergely Gulyás: "Isto é um disparate"
Na conferência de imprensa do Conselho de Ministros de quinta-feira, a revista HVG questionou o chefe de gabinete do primeiro-ministro, o ministro Gergely Gulyás, sobre a gravação áudio de Péter Magyar. Este respondeu que era "um disparate" e que não havia qualquer caso para falar.
Governo a favor da paz
As palavras do ministro da Defesa são surpreendentes porque, na Hungria, os membros do Governo de Orbán e o próprio Viktor Orbán são frequentemente ouvidos a dizer que o Governo húngaro é a favor da paz, enquanto a União Europeia é a favor da guerra, tal como o antigo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Orbán visitou o presidente russo, Vladimir Putin, no ano ado, no que apelidou de "missão de paz", com quem as relações parecem ser íntimas. Mas com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, as relações são mais frias.
O primeiro-ministro húngaro considera que apenas ele próprio e o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, são os chefes de Governo pró-paz da União Europeia. Isto apesar de terem sido os dois únicos a visitar Putin em Moscovo. Orbán não vai, mas Fico está presente, a 9 de maio, no Dia da Vitória em Moscovo.