{ "@context": "https://schema.org/", "@graph": [ { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": { "@type": "Webpage", "url": "/my-europe/2025/06/09/regras-de-doacao-de-esperma-postas-em-causa-apos-revelacoes-de-cancro-em-criancas" }, "headline": "Regras de doa\u00e7\u00e3o de esperma postas em causa ap\u00f3s revela\u00e7\u00f5es de cancro em crian\u00e7as", "description": "Um dador dinamarqu\u00eas, portador, sem o saber, de uma muta\u00e7\u00e3o num gene que aumenta o risco de cancro, ter\u00e1 ajudado a conceber pelo menos 67 crian\u00e7as, 10 das quais t\u00eam cancro.", "articleBody": "O caso p\u00f4s em evid\u00eancia as defici\u00eancias na forma como a doa\u00e7\u00e3o de esperma \u00e9 regulamentada na Europa.O Banco Europeu de Esperma (BES) utilizou alegadamente g\u00e2metas de um dador dinamarqu\u00eas que, sem saber, era portador de uma variante rara do gene TP53 que aumenta o risco de cancro precoce. O dador ajudou a conceber pelo menos 67 crian\u00e7as na Europa, incluindo 52 na B\u00e9lgica. 23 dessas crian\u00e7as s\u00e3o portadoras da variante, 10 das quais desenvolveram cancro.O caso foi revelado no final de maio por Edwige Kasper, bi\u00f3loga do Hospital Universit\u00e1rio de Rouen, numa reuni\u00e3o da Sociedade Europeia de Gen\u00e9tica Humana, em Mil\u00e3o.\u0022Trata-se de uma s\u00edndrome chamada s\u00edndrome de Li-Fraumeni, que d\u00e1 origem a m\u00faltiplos cancros com um espetro muito amplo, pelo que as crian\u00e7as portadoras desta variante devem ser acompanhadas de muito perto\u0022, explicou \u00e0 Euronews a especialista em predisposi\u00e7\u00f5es heredit\u00e1rias para o cancro.Das 10 crian\u00e7as que desenvolveram algum tipo de cancro, o m\u00e9dico contou quatro hemopatias (uma doen\u00e7a do sangue), quatro tumores cerebrais e dois tipos de sarcoma que afetam os m\u00fasculos.Enquanto a maioria dos pa\u00edses europeus limita o n\u00famero de crian\u00e7as geradas por um \u00fanico dador ou o n\u00famero de fam\u00edlias que podem ser ajudadas por um \u00fanico dador, n\u00e3o existe qualquer limite a n\u00edvel internacional ou europeu.\u0022Vamos acabar por ter uma propaga\u00e7\u00e3o anormal de uma patologia gen\u00e9tica, porque o banco de esperma envolvido neste caso estabeleceu um limite de 75 fam\u00edlias para o dador. Outros bancos de esperma n\u00e3o estabeleceram um limite\u0022, explica Edwige Kasper.Embora os dadores sejam sujeitos a exames m\u00e9dicos e testes gen\u00e9ticos, \u0022n\u00e3o existe uma pr\u00e9-sele\u00e7\u00e3o perfeita\u0022, explica Ayo Wahlberg, membro do Conselho Dinamarqu\u00eas de \u00c9tica.\u0022A tecnologia est\u00e1 a evoluir muito rapidamente. As tecnologias de testes gen\u00e9ticos e os seus custos est\u00e3o a diminuir t\u00e3o rapidamente que, se compararmos como era h\u00e1 10 ou 15 anos e hoje em dia, em termos de recrutamento e dos tipos de testes gen\u00e9ticos que podem ser efetuados como parte do processo de sele\u00e7\u00e3o, muita coisa mudou\u0022, explica.Limites nacionaisAs regras que regem a doa\u00e7\u00e3o de esperma variam de um pa\u00eds europeu para outro.O n\u00famero m\u00e1ximo de filhos por cada dador varia entre 15 na Alemanha e um em Chipre.Outros pa\u00edses preferem limitar o n\u00famero de fam\u00edlias que podem recorrer ao mesmo dador para lhes dar a oportunidade de terem irm\u00e3os e irm\u00e3s. Por exemplo, o mesmo dador pode ajudar 12 fam\u00edlias na Dinamarca e seis fam\u00edlias na Su\u00e9cia ou na B\u00e9lgica.Al\u00e9m disso, a doa\u00e7\u00e3o \u00e9 an\u00f3nima em pa\u00edses como Fran\u00e7a e Gr\u00e9cia.Noutros Estados-membros, como a \u00c1ustria, a pessoa nascida a partir de uma doa\u00e7\u00e3o de g\u00e2metas pode ter o \u00e0 identidade do seu progenitor.Na Alemanha e na Bulg\u00e1ria, as doa\u00e7\u00f5es podem ou n\u00e3o ser an\u00f3nimas, dependendo das circunst\u00e2ncias.Nos Pa\u00edses Baixos, n\u00e3o s\u00e3o an\u00f3nimas.Rumo a um enquadramento europeu?Os conselhos nacionais de \u00e9tica m\u00e9dica dinamarqu\u00eas, sueco, finland\u00eas e noruegu\u00eas est\u00e3o a fazer soar o alarme: a aus\u00eancia de limites a n\u00edvel internacional aumenta o risco de propaga\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as gen\u00e9ticas e de consanguinidade.Al\u00e9m disso, na era das redes sociais e dos testes de ADN, o anonimato dos dadores j\u00e1 n\u00e3o pode ser garantido a 100%. Descobrir a exist\u00eancia de dezenas de descendentes ou meios-irm\u00e3os pode ser mais dif\u00edcil para alguns dadores ou pessoas nascidas a partir de uma doa\u00e7\u00e3o.Ayo Wahlberg, membro do Conselho de \u00c9tica dinamarqu\u00eas, explicou \u00e0 Euronews que apoia estas limita\u00e7\u00f5es a n\u00edvel europeu devido ao \u0022risco de uma doen\u00e7a gen\u00e9tica se propagar inconscientemente de forma muito mais alargada (com um grande n\u00famero de descendentes) do que se o n\u00famero (de descendentes) fosse menor. Uma segunda raz\u00e3o \u00e9 o facto de dispormos agora de todas estas tecnologias de testes gen\u00e9ticos e de os meios-irm\u00e3os se poderem encontrar na Internet (...) Finalmente, o encontro involunt\u00e1rio de um meio-irm\u00e3o ou de uma meia-irm\u00e3 sem que o saibam continua a ser uma preocupa\u00e7\u00e3o para algumas pessoas\u0022.Estes conselhos de \u00e9tica apelam, portanto, \u00e0 fixa\u00e7\u00e3o de limites a n\u00edvel europeu e internacional e \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de registos.\u0022O primeiro o \u00e9, por conseguinte, estabelecer ou p\u00f4r em pr\u00e1tica um limite de fam\u00edlias por dador. O segundo o \u00e9 criar um registo nacional. E o terceiro o \u00e9, obviamente, ter um registo europeu baseado nos registos nacionais\u0022, disse Sven-Erik S\u00f6der, presidente do Conselho Nacional Sueco de \u00c9tica M\u00e9dica, \u00e0 Euronews.Ao argumento, por vezes avan\u00e7ado, de que a introdu\u00e7\u00e3o de restri\u00e7\u00f5es poderia levar a uma escassez de g\u00e2metas em detrimento das fam\u00edlias, Sven-Erik S\u00f6der responde que a solu\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 a aus\u00eancia de regulamenta\u00e7\u00e3o, mas sim o est\u00edmulo da oferta para atrair mais dadores.", "dateCreated": "2025-06-06T17:31:47+02:00", "dateModified": "2025-06-09T13:55:30+02:00", "datePublished": "2025-06-09T13:55:19+02:00", "image": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F59%2F56%2F84%2F1440x810_cmsv2_d5d8cb70-894f-5ccb-be4c-69bc0a02e70c-7595684.jpg", "width": 1440, "height": 810, "caption": "Uma embriologista trabalha numa placa de Petri na cl\u00ednica de fertilidade Create Health, no sul de Londres, na quinta-feira, 14 de agosto de 2013. ", "thumbnail": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Farticles%2Fstories%2F07%2F59%2F56%2F84%2F432x243_cmsv2_d5d8cb70-894f-5ccb-be4c-69bc0a02e70c-7595684.jpg", "publisher": { "@type": "Organization", "name": "euronews", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png" } }, "author": [ { "@type": "Person", "familyName": "Hess", "givenName": "Amandine", "name": "Amandine Hess", "url": "/perfis/2862", "worksFor": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } } ], "publisher": { "@type": "Organization", "name": "Euronews", "legalName": "Euronews", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fstatic.euronews.com%2Fwebsite%2Fimages%2Feuronews-logo-main-blue-403x60.png", "width": 403, "height": 60 }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] }, "articleSection": [ "Not\u00edcias da Europa" ], "isAccessibleForFree": "False", "hasPart": { "@type": "WebPageElement", "isAccessibleForFree": "False", "cssSelector": ".poool-content" } }, { "@type": "WebSite", "name": "Euronews.com", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/search?query={search_term_string}", "query-input": "required name=search_term_string" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/pt.euronews", "https://twitter.com/euronewspt", "https://flipboard.com/@euronewspt", "https://www.linkedin.com/company/euronews" ] } ] }
PUBLICIDADE

Regras de doação de esperma postas em causa após revelações de cancro em crianças

Uma embriologista trabalha numa placa de Petri na clínica de fertilidade Create Health, no sul de Londres, na quinta-feira, 14 de agosto de 2013.
Uma embriologista trabalha numa placa de Petri na clínica de fertilidade Create Health, no sul de Londres, na quinta-feira, 14 de agosto de 2013. Direitos de autor Sang Tan/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Sang Tan/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
De Amandine Hess
Publicado a
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Um dador dinamarquês, portador, sem o saber, de uma mutação num gene que aumenta o risco de cancro, terá ajudado a conceber pelo menos 67 crianças, 10 das quais têm cancro.

PUBLICIDADE

O caso pôs em evidência as deficiências na forma como a doação de esperma é regulamentada na Europa.

O Banco Europeu de Esperma (BES) utilizou alegadamente gâmetas de um dador dinamarquês que, sem saber, era portador de uma variante rara do gene TP53 que aumenta o risco de cancro precoce. O dador ajudou a conceber pelo menos 67 crianças na Europa, incluindo 52 na Bélgica. 23 dessas crianças são portadoras da variante, 10 das quais desenvolveram cancro.

O caso foi revelado no final de maio por Edwige Kasper, bióloga do Hospital Universitário de Rouen, numa reunião da Sociedade Europeia de Genética Humana, em Milão.

"Trata-se de uma síndrome chamada síndrome de Li-Fraumeni, que dá origem a múltiplos cancros com um espetro muito amplo, pelo que as crianças portadoras desta variante devem ser acompanhadas de muito perto", explicou à Euronews a especialista em predisposições hereditárias para o cancro.

Das 10 crianças que desenvolveram algum tipo de cancro, o médico contou quatro hemopatias (uma doença do sangue), quatro tumores cerebrais e dois tipos de sarcoma que afetam os músculos.

Enquanto a maioria dos países europeus limita o número de crianças geradas por um único dador ou o número de famílias que podem ser ajudadas por um único dador, não existe qualquer limite a nível internacional ou europeu.

"Vamos acabar por ter uma propagação anormal de uma patologia genética, porque o banco de esperma envolvido neste caso estabeleceu um limite de 75 famílias para o dador. Outros bancos de esperma não estabeleceram um limite", explica Edwige Kasper.

Embora os dadores sejam sujeitos a exames médicos e testes genéticos, "não existe uma pré-seleção perfeita", explica Ayo Wahlberg, membro do Conselho Dinamarquês de Ética.

"A tecnologia está a evoluir muito rapidamente. As tecnologias de testes genéticos e os seus custos estão a diminuir tão rapidamente que, se compararmos como era há 10 ou 15 anos e hoje em dia, em termos de recrutamento e dos tipos de testes genéticos que podem ser efetuados como parte do processo de seleção, muita coisa mudou", explica.

Limites nacionais

As regras que regem a doação de esperma variam de um país europeu para outro.

O número máximo de filhos por cada dador varia entre 15 na Alemanha e um em Chipre.

Outros países preferem limitar o número de famílias que podem recorrer ao mesmo dador para lhes dar a oportunidade de terem irmãos e irmãs. Por exemplo, o mesmo dador pode ajudar 12 famílias na Dinamarca e seis famílias na Suécia ou na Bélgica.

Além disso, a doação é anónima em países como França e Grécia.

Noutros Estados-membros, como a Áustria, a pessoa nascida a partir de uma doação de gâmetas pode ter o à identidade do seu progenitor.

Na Alemanha e na Bulgária, as doações podem ou não ser anónimas, dependendo das circunstâncias.

Nos Países Baixos, não são anónimas.

Rumo a um enquadramento europeu?

Os conselhos nacionais de ética médica dinamarquês, sueco, finlandês e norueguês estão a fazer soar o alarme: a ausência de limites a nível internacional aumenta o risco de propagação de doenças genéticas e de consanguinidade.

Além disso, na era das redes sociais e dos testes de ADN, o anonimato dos dadores já não pode ser garantido a 100%. Descobrir a existência de dezenas de descendentes ou meios-irmãos pode ser mais difícil para alguns dadores ou pessoas nascidas a partir de uma doação.

Ayo Wahlberg, membro do Conselho de Ética dinamarquês, explicou à Euronews que apoia estas limitações a nível europeu devido ao "risco de uma doença genética se propagar inconscientemente de forma muito mais alargada (com um grande número de descendentes) do que se o número (de descendentes) fosse menor. Uma segunda razão é o facto de dispormos agora de todas estas tecnologias de testes genéticos e de os meios-irmãos se poderem encontrar na Internet (...) Finalmente, o encontro involuntário de um meio-irmão ou de uma meia-irmã sem que o saibam continua a ser uma preocupação para algumas pessoas".

Estes conselhos de ética apelam, portanto, à fixação de limites a nível europeu e internacional e à criação de registos.

"O primeiro o é, por conseguinte, estabelecer ou pôr em prática um limite de famílias por dador. O segundo o é criar um registo nacional. E o terceiro o é, obviamente, ter um registo europeu baseado nos registos nacionais", disse Sven-Erik Söder, presidente do Conselho Nacional Sueco de Ética Médica, à Euronews.

Ao argumento, por vezes avançado, de que a introdução de restrições poderia levar a uma escassez de gâmetas em detrimento das famílias, Sven-Erik Söder responde que a solução não é a ausência de regulamentação, mas sim o estímulo da oferta para atrair mais dadores.

Ir para os atalhos de ibilidade
Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

O cancro antes dos 50 anos está a aumentar: eis os tipos mais frequentes

A exposição a uma toxina na infância pode ajudar a explicar o aumento do cancro colorretal nos jovens

Novo teste de saliva pode ser melhor para detetar cancro da próstata do que uma análise ao sangue