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Um jovem branco, de apar\u00eancia fraca. Quando veio entrevistar-me, as pessoas estavam a gozar com ele. Alguns pugilistas e mi\u00fados fora do gin\u00e1sio. Chamavam-lhe \u201cseu este, seu aquele\u201d... Quando ele me fez a entrevista, foi uma grande entrevista. Fiz com que os outros paraassem de o humilhar. Est\u00e1vamos no Ramad\u00e3o, tinha o meu Alcor\u00e3o comigo e disse que estava ali um ser humano, que o deixassem em paz e o tratassem com respeito.Decorreu ent\u00e3o a entrevista. Algumas semanas depois, j\u00e1 depois do fim do Ramad\u00e3o, recebo um telefonema de um amigo a dizer que o FBI estava \u00e0 minha procura. Chego l\u00e1 e tinham tr\u00eas quarteir\u00f5es isolados. Mostraram-me uma foto do entrevistador e perguntaram-me se o conhecia. Disse que sim, que me tinha entrevistado duas semanas antes. Pedi desculpa, se o tinha eventualmente ofendido. O pol\u00edcia respondeu: \u201cN\u00e3o, Sr. Tyson, ele gostou de si. 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Quando esse dia vier, ou a droga me deita abaixo ou eu consigo levantar os bra\u00e7os. Uma dessas duas coisas vai acontecer e eu n\u00e3o quero perder mais tempo de vida.*Isabelle Kumar, euronews:Disse algo muito interessante na sua autobiografia: Falou do tempo que ou na pris\u00e3o e agora vou cit\u00e1-lo: Diz que isso para si foi uma b\u00ean\u00e7\u00e3o. Que li\u00e7\u00f5es dessa altura transporta consigo?*Mike Tyson:Sou uma pessoa diferente da que era nessa altura. Outra pessoa.*Isabelle Kumar, euronews:Faz muitas coisas agora, \u00e9 tamb\u00e9m promotor de boxe, algo que nunca esperava vir a fazer.*Mike Tyson:Isso tamb\u00e9m \u00e9 algo muito estranho. Nunca pensei que viesse a fazer isso, porque sempre desprezei os promotores de boxe. S\u00f3 de pensar que sou promotor de boxe, fico com arrepios. Mas a verdade \u00e9 que sou\u2026*Isabelle Kumar, euronews:Foi explorado\u2026*Mike Tyson:Fa\u00e7o isto por uma boa raz\u00e3o: Tenho que tratar dos meus filhos, para que eles um dia tratem de mim. E quero, mais que tudo, assegurar-me de que eles n\u00e3o cometem os mesmos erros que eu cometi.*Isabelle Kumar, euronews:Que conselho lhes quer dar? *Mike Tyson:Que os agentes n\u00e3o s\u00e3o precisos, mesmo se alguns precisam. Na minha opini\u00e3o, os agentes s\u00e3o apenas uma esp\u00e9cie de \u201cbaby-sitters\u201d glorificados, que ficam com 10% do que ganhamos ou at\u00e9 mais do que isso. Tudo aquilo de que um pugilista precisa hoje \u00e9 de um advogado e de um treinador. Ningu\u00e9m precisa de agentes.*Isabelle Kumar, euronews:Fala-se muito da sua ira\u00e7\u00e3o por Cus D\u2019Amato, seu antigo agente. Qual \u00e9 a influ\u00eancia dele naquilo que faz?*Mike Tyson:N\u00e3o sei. Eu n\u00e3o sou ele. Talvez se continuar a fazer isto mais 20 anos ou assim, possa chegar ao nivel de prote\u00e7\u00e3o que ele d\u00e1 aos pugilistas. Ainda n\u00e3o cheguei l\u00e1. N\u00e3o tenho a experi\u00eancia que tem o Sr. D\u2019Amato.*Isabelle Kumar, euronews:Fala dele no presente (nota: Cus D\u2019Amato morreu em 1985). Acompanha-o muito? *Mike Tyson:Sim, muito.*Isabelle Kumar, euronews:Considera-o uma das pessoas mais especiais na sua vida?*Mike Tyson:Absolutamente. Ningu\u00e9m me inspira tanto como ele me inspirava quando estava desanimado. \u00c0s vezes, tenho a certeza que na sua \u00e1rea tamb\u00e9m, h\u00e1 alturas em que pensamos que as coisas se dificultaram e n\u00e3o queremos fazer mais o que estamos a fazer. Era ele que me inspirava a dizer qual era o caminho. Fazia-me querer seguir esse caminho. Deixei v\u00e1rias vezes o boxe, mesmo antes de me tornar profissional. Deixei, n\u00e3o queria mais fazer isto e foi ele que me deu a inspira\u00e7\u00e3o para continuar.*Isabelle Kumar, euronews:O que me leva \u00e0 quest\u00e3o colocada por um jovem, Jean-Louis Fanel Doulos, que pergunta como se tornou num grande pugilista. *Mike Tyson:N\u00e3o sei como \u00e9 que algu\u00e9m se torna num grande pugilista. Estaria a mentir se dissesse que sabia. Cada um tem o seu caminho. O meu foi feito de sacrif\u00edcio, dedica\u00e7\u00e3o e disciplina, algo de que nunca fui muito adepto. Nunca tive. Era egoc\u00eantrico, ego\u00edsta e pregui\u00e7oso. Ao dar-me com Cus D\u2019Amato, ganhei outras caracter\u00edsticas. O sacrif\u00edcio e o abandono daquilo que ach\u00e1vamos importante, por uma causa que achamos ainda mais importante. A disciplina tem a ver com fazer aquilo que detestamos, mas que devemos fazer como se ador\u00e1ssemos.*Isabelle Kumar, euronews:H\u00e1 muito dinheiro associado ao desporto. Ganhou muito. Acha que isso \u00e9, necessariamente, uma boa coisa? Os valores deveriam descer ou est\u00e3o bem assim?*Mike Tyson:N\u00e3o, n\u00e3o deveriam descer. Uma vez, eu e o Cus est\u00e1vamos a falar de um combate. Na altura, eu era um adolescente, tinha 14 ou 16 anos e disse que determinado pugilista n\u00e3o merecia tanto dinheiro. Cus disse que merecia cada c\u00eantimo, porque por cada contrato que assinamos h\u00e1 uma cl\u00e1usula que n\u00e3o est\u00e1 escrita, mas que todos conhecem, que \u00e9 a de podermos morrer durante um treino ou um combate. Por isso a recompensa \u00e9 merecida.*Isabelle Kumar, euronews:Mas tanto dinheiro n\u00e3o corrompe? N\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel ter algum controlo nisso?*Mike Tyson:Isso j\u00e1 acontecia muito antes de n\u00f3s os dois estarmos aqui a falar e vai continuar a acontecer depois de nos termos ido embora. Tem a ver com a pr\u00f3pria ess\u00eancia das pessoas. As pessoas precisam do dinheiro como de sangue para viver, por isso vai sempre haver corrup\u00e7\u00e3o.*Isabelle Kumar, euronews:Quero trazer mais algumas vozes do nosso p\u00fablico online. Mattu pergunta quem \u00e9 que lhe deu o soco mais memor\u00e1vel de sempre.*Mike Tyson:Todos contra quem combati. Sempre que levo um soco, nunca esque\u00e7o.*Isabelle Kumar, euronews:Foi por isso que se tornou promotor? Tinha saudade deste mundo?*Mike Tyson:N\u00e3o, n\u00e3o tenho saudade. Mas sei que agora \u00e9 poss\u00edvel ajudar as pessoas. Porque o boxe e o desporto em geral s\u00e3o apenas um incremento na nossa vida. Quando isso a, temos ainda muita vida para viver.*Isabelle Kumar, euronews:Como aprendeu a li\u00e7\u00e3o? Houve um ponto de viragem, teve alguma esp\u00e9cie de epifania ou foi algo que chegou lentamente?*Mike Tyson:N\u00e3o sei. Penso que veio devagar, foi algo que demorou tempo a instalar-se. Levei tempo a crescer e a lidar com as responsabilidades da vida. Quando estamos a praticar boxe, ou r\u00e2guebi, ou futebol, quando somos jovens, vivemos sem pensar muito nas responsabilidades.*Isabelle Kumar, euronews:Do que \u00e9 que tem mais saudade nos velhos tempos?*Mike Tyson:N\u00e3o h\u00e1 muita coisa de que tenha saudade. Se pensarmos que ganhava 30 a 40 milh\u00f5es de d\u00f3lares por combate, a fazer aquilo que queria, encontrava quem eu queria, via algu\u00e9m na televis\u00e3o, gostava, telefonava e encontrava-me com essa pessoa. Fazia o que queria. Mas n\u00e3o tinha paz. Agora n\u00e3o estou no auge da carreira, n\u00e3o fa\u00e7o nem um d\u00e9cimo do dinheiro que fazia. Mas tenho desenhos animados e espet\u00e1culos. Algo que nunca teria acontecido quando estava no ativo. Na altura, nunca me teria entendido com o produtor, teria sido arrogante. \u00c0 medida que envelhecemos, vamo-nos tornando mais humildes. Aprendemos que, se n\u00e3o somos humildes neste mundo, \u00e9 o mundo que nos atira a humildade.*Isabelle Kumar, euronews:Podemos dizer que na sua nova vida, se \u00e9 que podemos dividir as coisas entre vida ada a vida atual, tem paix\u00e3o naquilo que faz?*Mike Tyson:N\u00e3o sou capaz de fazer algo se n\u00e3o o fizer de forma apaixonada, mesmo se n\u00e3o ganhar nada com isso. Por isso falei de paz e de felicidade. Se n\u00e3o fazemos o que fazemos com amor e paix\u00e3o, se \u00e9 s\u00f3 pelo dinheiro, o resultado \u00e9 desastroso, em termos emocionais. \u00c9 tudo o que sei. Tem que ser s\u00f3 por paix\u00e3o e pelo amor por aquilo que fa\u00e7o.*Isabelle Kumar, euronews:Terminamos com uma quest\u00e3o de El Moussadak Chadad, que pergunta se est\u00e1, finalmente, em paz consigo pr\u00f3prio.*Mike Tyson:N\u00e3o sei. A minha vida ainda n\u00e3o acabou. S\u00f3 vou perceber isso quando estiver no meu leito de morte. \u00c0 medida que o tempo avan\u00e7a, ningu\u00e9m sabe o que est\u00e1 ao virar da esquina. 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Mike Tyson: "Não tenho saudade do tempo em que ganhava 30 ou 40 milhões por combate"

Mike Tyson: "Não tenho saudade do tempo em que ganhava 30 ou 40 milhões por combate"
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Chamaram-lhe o maior vilão do planeta, conhecido pelas diatribes dentro e fora do ringue. O antigo campeão mundial de pesos pesados, o lendário e controverso Mike Tyson conta a história da sua vida num “one man show” e está agora aqui no Fórum Grimaldi no Mónaco.

  • Mike Tyson nasceu a 30 de junho de 1966 num bairro pobre de Brooklyn (Nova Iorque).
  • Teve uma infância complicada e aprendeu o boxe no reformatório.
  • Cus D'Amato tornou-se agente de Tyson quando ele era uma jovem promessa.
  • Em 1986, Mike Tyson tornou-se no mais jovem campeão mundial de pesos pesados. Perdeu o título em 1990.
  • Tyson foi preso em 1992, acusado de violação, e ou três anos na prisão.
  • Regressou aos ringues e, depois da reforma, tem-se dedicado ao mundo do espetáculo. É autor de uma autobiografia.

Isabelle Kumar, euronews: Mike Tyson, obrigada por estar connosco aqui no Global Conversation. Está aqui para apresentar o seu “one man show”, “Undisputed Truth” (Verdade Absoluta), que fala sobre os altos e baixos da sua vida. Quando o vemos, temos a impressão de que quer deixar tudo em pratos limpos. É assim?

Mike Tyson: Não sei se quero deixar em pratos limpos. Falo com as pessoas sobre coisas que elas já conhecem, apenas gosto que elas saibam o que está por detrás disso, mas não acho que isso seja deixar as coisas em pratos limpos.

Isabelle Kumar, euronews: Interessa-lhe a opinião do público sobre si quando faz isto ou chegou a um ponto em que…

Mike Tyson: Não. Gosto só de entreter as pessoas.

Isabelle Kumar, euronews: O que faz com que seja tão bom em palco? É a experiência como pugilista, que se traduz bem no palco?

Mike Tyson: Penso que a minha experiência como pugilista, de atuar perante grandes multidões me deu confiança para enfrentar o palco.

Isabelle Kumar, euronews: Dá-lhe energia?

Mike Tyson: Sim, toneladas de energia. Mas não é muito importante. Faço o espetáculo da mesma forma, seja para 20.000 ou para duas pessoas.

Isabelle Kumar, euronews: Como é que mede o sucesso? Antes era pelo número de vitórias por “knock-out”. Era um fenómeno de sucesso. Agora, o sucesso é importante? Como é que o mede?

Mike Tyson: Não sei. Como ser humano, o sucesso é importante para qualquer pessoa. Tal como para si, na sua área, é importante fazer uma boa entrevista e ser reconhecida no seu campo, tal como eu fui no meu. Seja em que área for, as pessoas gostam de ser reconhecidas e colher os frutos do trabalho que tiveram. Por isso sim, eu também aprecio.

Isabelle Kumar, euronews: Pedimos ao nosso público na Internet que nos mandasse perguntas. Recebemos muitas questões. Adriel Moodley pergunta por que razão se virou para a “stand up comedy”. Sei que o seu espetáculo não é propriamente de comédia, já que fala de algumas partes duras da sua vida… Mas como chegou aqui?

Mike Tyson: Vi um ator, nos Estados Unidos, chamado Chazz Palmenteri, que fez um filme chamado “The Bronx Tale”. Nessa noite, ele representou o filme completo no palco. O filme teve um grande sucesso, foi um “blockbuster”, mas ele no palco, sozinho, fez ainda melhor que o filme. Cativou todo o público, 8000 ou 9000 pessoas. Cativou-nos a todos, não ouvíamos mais nada a não ser a voz dele. Pensei que seria extraordinário fazer uma coisa assim.

Isabelle Kumar, euronews: Li a sua autobiografia e vi o espetáculo. Teve de deixar algumas partes de fora. Vai haver uma “Undisputed Truth, parte dois”?

Mike Tyson: Sim, temos outro espetáculo, mas “Undisputed Truth” monopolizou tudo, houve muitos pedidos de representações, pelos quais estou muito grato. Não devia dizer isto, mas às vezes gostava que houvesse um pouco menos de procura, para que pudéssmos mostrar o outro espetáculo, que é também muito bom.

Isabelle Kumar, euronews: Fale-me um pouco dele.

Mike Tyson: É como “Undisputed Truth”, mas chama-se “Addicted to Chaos” (Viciado no Caos), fala muito sobre os anos loucos, sobre coisas de que não pude falar no primeiro espetáculo.

Isabelle Kumar, euronews: Pode falar-me um pouco dele?

Mike Tyson: Houve um incidente. Fui entrevistado por um repórter de televisão. Um jovem branco, de aparência fraca. Quando veio entrevistar-me, as pessoas estavam a gozar com ele. Alguns pugilistas e miúdos fora do ginásio. Chamavam-lhe “seu este, seu aquele”… Quando ele me fez a entrevista, foi uma grande entrevista. Fiz com que os outros paraassem de o humilhar. Estávamos no Ramadão, tinha o meu Alcorão comigo e disse que estava ali um ser humano, que o deixassem em paz e o tratassem com respeito.

Decorreu então a entrevista. Algumas semanas depois, já depois do fim do Ramadão, recebo um telefonema de um amigo a dizer que o FBI estava à minha procura. Chego lá e tinham três quarteirões isolados. Mostraram-me uma foto do entrevistador e perguntaram-me se o conhecia. Disse que sim, que me tinha entrevistado duas semanas antes. Pedi desculpa, se o tinha eventualmente ofendido. O polícia respondeu: “Não, Sr. Tyson, ele gostou de si. Não gostou foi das 15 pessoas que feriu e das nove que matou”. Era um “serial killer”. Uma espécie de “sniper”. Só vieram ter comigo porque viram uma foto dele comigo, em que apertávamos as mãos, no “site” dele. Perguntaram-me se ele me tinha falado de alguma coisa, eu disse que não sabia de nada, estava simplesmente siderado.

Isabelle Kumar, euronews: Estou à espera de ver “Addicted to Chaos”. Mas em “Undisputed Truth” fala dos altos e baixos extremos. Para o nosso público, é capaz de descrever algumas cenas que sejam particularmente tocantes?

Mike Tyson: Não sei, falamos do meu casamento, dos combates que perdi, dos combates que ganhei, das toneladas de dinheiro que fiz, que gastei e que perdi… Os processos na justiça, as lutas de rua… Como costumo dizer, sou uma montanha-russa de emoções.

Isabelle Kumar, euronews: Se olharmos para os momentos mais difíceis da sua carreira, teve um sucesso fenomenal, mas também teve uma batalha contra o vício das drogas, que foi conhecida de todos. Conseguiu livrar-se disso? É algo que já ultraou?

Mike Tyson: É como me sinto agora. O que se a com o vício das drogas é que cada dia em que não me drogo é um dia em que fico mais forte. Sei que um dia a tentação vai voltar, é inevitável. Enquanto não uso drogas, vou-me preparando para esse dia. Quando esse dia vier, ou a droga me deita abaixo ou eu consigo levantar os braços. Uma dessas duas coisas vai acontecer e eu não quero perder mais tempo de vida.

Isabelle Kumar, euronews: Disse algo muito interessante na sua autobiografia: Falou do tempo que ou na prisão e agora vou citá-lo: Diz que isso para si foi uma bênção. Que lições dessa altura transporta consigo?

Mike Tyson: Sou uma pessoa diferente da que era nessa altura. Outra pessoa.

Isabelle Kumar, euronews: Faz muitas coisas agora, é também promotor de boxe, algo que nunca esperava vir a fazer.

Mike Tyson: Isso também é algo muito estranho. Nunca pensei que viesse a fazer isso, porque sempre desprezei os promotores de boxe. Só de pensar que sou promotor de boxe, fico com arrepios. Mas a verdade é que sou…

Isabelle Kumar, euronews: Foi explorado…

Mike Tyson: Faço isto por uma boa razão: Tenho que tratar dos meus filhos, para que eles um dia tratem de mim. E quero, mais que tudo, assegurar-me de que eles não cometem os mesmos erros que eu cometi.

Isabelle Kumar, euronews: Que conselho lhes quer dar?

Mike Tyson: Que os agentes não são precisos, mesmo se alguns precisam. Na minha opinião, os agentes são apenas uma espécie de “baby-sitters” glorificados, que ficam com 10% do que ganhamos ou até mais do que isso. Tudo aquilo de que um pugilista precisa hoje é de um advogado e de um treinador. Ninguém precisa de agentes.

Isabelle Kumar, euronews: Fala-se muito da sua iração por Cus D’Amato, seu antigo agente. Qual é a influência dele naquilo que faz?

Mike Tyson: Não sei. Eu não sou ele. Talvez se continuar a fazer isto mais 20 anos ou assim, possa chegar ao nivel de proteção que ele dá aos pugilistas. Ainda não cheguei lá. Não tenho a experiência que tem o Sr. D’Amato.

Isabelle Kumar, euronews: Fala dele no presente (nota: Cus D’Amato morreu em 1985). Acompanha-o muito?

Mike Tyson: Sim, muito.

Isabelle Kumar, euronews: Considera-o uma das pessoas mais especiais na sua vida?

Mike Tyson: Absolutamente. Ninguém me inspira tanto como ele me inspirava quando estava desanimado. Às vezes, tenho a certeza que na sua área também, há alturas em que pensamos que as coisas se dificultaram e não queremos fazer mais o que estamos a fazer. Era ele que me inspirava a dizer qual era o caminho. Fazia-me querer seguir esse caminho. Deixei várias vezes o boxe, mesmo antes de me tornar profissional. Deixei, não queria mais fazer isto e foi ele que me deu a inspiração para continuar.

Isabelle Kumar, euronews: O que me leva à questão colocada por um jovem, Jean-Louis Fanel Doulos, que pergunta como se tornou num grande pugilista.

Mike Tyson: Não sei como é que alguém se torna num grande pugilista. Estaria a mentir se dissesse que sabia. Cada um tem o seu caminho. O meu foi feito de sacrifício, dedicação e disciplina, algo de que nunca fui muito adepto. Nunca tive. Era egocêntrico, egoísta e preguiçoso. Ao dar-me com Cus D’Amato, ganhei outras características. O sacrifício e o abandono daquilo que achávamos importante, por uma causa que achamos ainda mais importante. A disciplina tem a ver com fazer aquilo que detestamos, mas que devemos fazer como se adorássemos.

Isabelle Kumar, euronews: Há muito dinheiro associado ao desporto. Ganhou muito. Acha que isso é, necessariamente, uma boa coisa? Os valores deveriam descer ou estão bem assim?

Mike Tyson: Não, não deveriam descer. Uma vez, eu e o Cus estávamos a falar de um combate. Na altura, eu era um adolescente, tinha 14 ou 16 anos e disse que determinado pugilista não merecia tanto dinheiro. Cus disse que merecia cada cêntimo, porque por cada contrato que assinamos há uma cláusula que não está escrita, mas que todos conhecem, que é a de podermos morrer durante um treino ou um combate. Por isso a recompensa é merecida.

Isabelle Kumar, euronews: Mas tanto dinheiro não corrompe? Não é possível ter algum controlo nisso?

Mike Tyson: Isso já acontecia muito antes de nós os dois estarmos aqui a falar e vai continuar a acontecer depois de nos termos ido embora. Tem a ver com a própria essência das pessoas. As pessoas precisam do dinheiro como de sangue para viver, por isso vai sempre haver corrupção.

Isabelle Kumar, euronews: Quero trazer mais algumas vozes do nosso público online. Mattu pergunta quem é que lhe deu o soco mais memorável de sempre.

Mike Tyson: Todos contra quem combati. Sempre que levo um soco, nunca esqueço.

Isabelle Kumar, euronews: Foi por isso que se tornou promotor? Tinha saudade deste mundo?

Mike Tyson: Não, não tenho saudade. Mas sei que agora é possível ajudar as pessoas. Porque o boxe e o desporto em geral são apenas um incremento na nossa vida. Quando isso a, temos ainda muita vida para viver.

Isabelle Kumar, euronews: Como aprendeu a lição? Houve um ponto de viragem, teve alguma espécie de epifania ou foi algo que chegou lentamente?

Mike Tyson: Não sei. Penso que veio devagar, foi algo que demorou tempo a instalar-se. Levei tempo a crescer e a lidar com as responsabilidades da vida. Quando estamos a praticar boxe, ou râguebi, ou futebol, quando somos jovens, vivemos sem pensar muito nas responsabilidades.

Isabelle Kumar, euronews: Do que é que tem mais saudade nos velhos tempos?

Mike Tyson: Não há muita coisa de que tenha saudade. Se pensarmos que ganhava 30 a 40 milhões de dólares por combate, a fazer aquilo que queria, encontrava quem eu queria, via alguém na televisão, gostava, telefonava e encontrava-me com essa pessoa. Fazia o que queria. Mas não tinha paz.

Agora não estou no auge da carreira, não faço nem um décimo do dinheiro que fazia. Mas tenho desenhos animados e espetáculos. Algo que nunca teria acontecido quando estava no ativo. Na altura, nunca me teria entendido com o produtor, teria sido arrogante. À medida que envelhecemos, vamo-nos tornando mais humildes. Aprendemos que, se não somos humildes neste mundo, é o mundo que nos atira a humildade.

Isabelle Kumar, euronews: Podemos dizer que na sua nova vida, se é que podemos dividir as coisas entre vida ada a vida atual, tem paixão naquilo que faz?

Mike Tyson: Não sou capaz de fazer algo se não o fizer de forma apaixonada, mesmo se não ganhar nada com isso. Por isso falei de paz e de felicidade. Se não fazemos o que fazemos com amor e paixão, se é só pelo dinheiro, o resultado é desastroso, em termos emocionais. É tudo o que sei. Tem que ser só por paixão e pelo amor por aquilo que faço.

Isabelle Kumar, euronews: Terminamos com uma questão de El Moussadak Chadad, que pergunta se está, finalmente, em paz consigo próprio.

Mike Tyson: Não sei. A minha vida ainda não acabou. Só vou perceber isso quando estiver no meu leito de morte. À medida que o tempo avança, ninguém sabe o que está ao virar da esquina. Este momento é só para viver.

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